sábado, 11 de julho de 2009

DÓ SEM PIEDADE


Hoje vi um cachorro pelado, magro e tremendo de frio. Olhava para mim como se eu tivesse alguma obrigação de cuidar dele. Destesto isso, detesto que me peçam que fique com pena, maldito CACHORRO DOÍDO QUE matei mil vezes na infância.
Era o meu pai que me ensinava a dar tiros. Não sei porque os cachorros não avisavam uns aos outros que não se deveria ir lá em casa. Se não pedissem nada, nem comida, não atravessassem a rua para chegar um pouco perto de nós, éramos indiferentes a eles. Uma pata na CALÇADA LIMPA, um passeio de pêlos pela porta da casa E ERA HORA DE TIROS.
Cachorros horríveis, doentes, mortos de fome, e meu pai: MATO DE DÓ.
o ENTERRO era só o meu pai: uma covinha longe, embaixo das árvores; UMAS FOLHAS POR CIMA e estava acabado, mas ele ficava triste. Só eu sei disso. Ele dizia que cachorro não era igual a gente, nem igual aos gatos; CACHORROS NÃO SENTEM NADA QUANDO MORREM. NEM FICAM SABENDO QUE MORREM.
Tenho medo de que na morte me espere uma família de cães, UMA FAMÍLIA NÃO, uma sociedade canídea, uma canzoada ganindo pronta para se vingar dos meus tiros sem piedade.
Trecho de "Tinha uma coisa aqui", de Ieda Magri, 2007.

6 comentários:

Valéria Martins disse...

Nossa, que impressionante.

Minha avó recomendava que eu fosse boa com os animais, porque quando a gente morre, a caminho do céu, passa da terra dos bichos. E quem foi mau tem que acertar as contas com eles, brrr...

Ainda bem que eu amo os bichos, sempre tive vários em casa e sempre cuidei bem deles!

Beijos, querido Pablo

Agnes R. disse...

Forte o texto da Ieda, não?
Gostou do livro, Pablito?
Beijos parisienses...

Pablo Lima disse...

é! às vezes quando não dou a devida atenção aos meus (gatos e cão)sinto a mesma coisa! (:

Pablo Lima disse...

cara audrey, fundamental a obra da Ieda PRA QUEM GOSTA DE LER!
está aberta para ela a estrada da literatura! que ela continue a encher páginas com belas letras!

e vc, pronta para postar por aqui?? bjos!

Agnes R. disse...

Caríssimo, creio que ainda me sinto turista demais por essas bandas para começar a escrever.
Quando passar o deslumbramento estarei pronta! (será que vai passar?)

Pablo Lima disse...

acho que não...(;