Do último post trouxe pra cá o Caetano, as metáforas, as referências artísticas e também o sangue; do primeiro a família, cujo talento sanguíneo pulsa acordes e notas musicais de qualidade infindável.
Da irmã mais moça do clã Veloso, Maria Bethânia, personagem principal do vídeo, tiramos a ternura, poucas vezes vista em momentos de apoteose individual.
Como recurso metafórico podemos usar o fogo, que representa calor e encontra sentido na afetuosidade mostrada pelo afeto familiar entre Bethânia, Caetano, três de seus irmãos, sobrinhos e a anciã-mãe Canô – à época da gravação com 97 anos e com atuais 101; ou também das fogueiras presentes nas festas de São João, que por si só sobrevive às mais variadas interpretações: o fogo do amor, que sobe, se eleva, se enleva, como os fogos de artifícios e os balões soltos e desimpedidos, que habitam o céu sem rumos definidos, da mesma forma que os amores mais ardentes.
Tudo dentro da mesma proposta temática e semântica e do mesmo modo que outros fizeram, como NOEL ROSA em “Último Desejo”: “nosso amor que não esqueço/ e que teve o seu começo numa festa de São João/morre hoje sem foguete/sem retrato, sem bilhete/sem luar, sem violão”. Ou outro ilustríssimo, Braguinha,que bradou com beleza sobre o tema em “Mané Fogueteiro”: “era o deus das crianças/da vila distante de três corações/ em dia de festa fazia rodinhas/soltava foguete, soltava balões".
Nada vi de melhor para interromper a série sobre o Clube da Esquina e reiniciar a primavera com um São João fora do ambiente de inverno. Deliciem-se ao puxar a cadeira e pedir assento junto a família de Maria Bethânia Vianna Telles Veloso, dita neste filme como a “Pedrinha de Aruanda” – aruanda esta onde vivem as divindades que os balões desencaminhados teimam em encontrar.
FOGUETE
Tantas vezes eu soltei foguete
Imaginando que você já vinha
Ficava cá no meu canto calada
Ouvindo a barulheira que a saudade tinha
É como diz João Cabral de Mello Neto
Um galo sozinho não tece uma manhã
Senti na pele a mão do teu afeto
Quando escutei o canto de acauã
A brisa veio feito cana mole
Doce, me roubou um beijo
Flor de querer bem
Tanta lembrança este carinho trouxe
UM BEIJO VALE PELO QUE CONTÉM
Tantas vezes eu soltei foguete
Imaginando que você já vinha
Ficava cá no meu canto calada
Ouvindo a barulheira
Que a saudade tinha
Tirei a renda da naftalina
Forrei cama, cobri mesa
E fiz uma cortina
Varri a casa com vassoura fina
Armei a rede na varanda
Enfeitada com bonina
Você chegou no amiudar do dia
Eu nunca mais senti tanta alegria
Se eu soubesse soltava foguete
Acendia uma fogueira
E enchia o céu de balão
NOSSO AMOR É TÃO BONITO, TÃO SINCERO
FEITO FESTA DE SÃO JOÃO
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
38. SÃO JOÃO fora de época
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4 comentários:
Ah, festas de São João, que delícia! Têm gosto de infância e cheiro de fumaça.
Não pude ver o vídeo porque estou cá no trabalho sem som. Mas adorei o poema do final. É uma música?
o dito poema é a letra da canção exibida no vídeo (;
bjocas!
Eu queria ver esse filme... Adoro a Bethânia assim como amo o mano Caetano. Aliás, acabei não assistindo ao documentário. Agora, só em DVD!
Beijos
A Paloma Flores virá ao Rio no domingo que vem, dia 4. Vamos sair com ela?
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