Por Pablo Lima, publicado na edição de dezembro de 2009 da Revista Fashion Life.
Segundo o dialeto austríaco, a expressão zit isch do quer dizer “chegou a hora”. Zit isch do era o som que o menino Hans identificava ao ouvir o canto de um pássaro na pequena cidade de Hard, na Áustria, na fronteira com a Suíça, onde passou boa parte de sua infância.
Decorridos alguns anos, o agora designer Hans Donner continua marcando o tempo, só que agora através de nuances entre claro e escuro, como no enorme monitor a sua frente em sua sala de trabalho.
É a partir desta lente privilegiada e do momento criativo de sua trajetória que ele se depara com um universo de novidades, entre as quais uma outra forma de marcar e enxergar o tempo, além dos números e ponteiros.
Com o nome de Timension, um novo marcador de tempo surge como uma inovadora proposta visual que promete mudar a cara dos relógios. Hans Donner foi buscar na natureza a concepção do Timension, uma maneira de ver o tempo diferente da forma tradicional a que estamos habituados, os tradicionais relógios com ponteiros, números e marcos precisos. A proposta do Timension – cujo nome é uma aglutinação das palavras time e dimension, respectivamente “tempo” e “dimensão” em inglês – se baseia na alternância entre luz e sombra. “O homem primitivo marcava a passagem do tempo com a relação entre o dia, com a presença do sol e da claridade, e a noite, a escuridão”, explica Donner. Enquanto o nascer e o pôr do sol serviam como marcos para os povos do passado, o planeta Terra, cuja metade está na sombra enquanto a outra metade fica iluminada, serve como base para o novo design do tempo.
No Timension, três círculos movem-se em rotação permanente: o círculo mais interno, que se move constantemente, representa os segundos; o círculo mais externo marca a passagem dos minutos e entre estes está o círculo das horas. A programação visual proposta pelo Timension vai de encontro à mecânica criada com os três ponteiros, criada e difundida no século 19.
Segundo o dialeto austríaco, a expressão zit isch do quer dizer “chegou a hora”. Zit isch do era o som que o menino Hans identificava ao ouvir o canto de um pássaro na pequena cidade de Hard, na Áustria, na fronteira com a Suíça, onde passou boa parte de sua infância.
Decorridos alguns anos, o agora designer Hans Donner continua marcando o tempo, só que agora através de nuances entre claro e escuro, como no enorme monitor a sua frente em sua sala de trabalho.
É a partir desta lente privilegiada e do momento criativo de sua trajetória que ele se depara com um universo de novidades, entre as quais uma outra forma de marcar e enxergar o tempo, além dos números e ponteiros.
Com o nome de Timension, um novo marcador de tempo surge como uma inovadora proposta visual que promete mudar a cara dos relógios. Hans Donner foi buscar na natureza a concepção do Timension, uma maneira de ver o tempo diferente da forma tradicional a que estamos habituados, os tradicionais relógios com ponteiros, números e marcos precisos. A proposta do Timension – cujo nome é uma aglutinação das palavras time e dimension, respectivamente “tempo” e “dimensão” em inglês – se baseia na alternância entre luz e sombra. “O homem primitivo marcava a passagem do tempo com a relação entre o dia, com a presença do sol e da claridade, e a noite, a escuridão”, explica Donner. Enquanto o nascer e o pôr do sol serviam como marcos para os povos do passado, o planeta Terra, cuja metade está na sombra enquanto a outra metade fica iluminada, serve como base para o novo design do tempo.
No Timension, três círculos movem-se em rotação permanente: o círculo mais interno, que se move constantemente, representa os segundos; o círculo mais externo marca a passagem dos minutos e entre estes está o círculo das horas. A programação visual proposta pelo Timension vai de encontro à mecânica criada com os três ponteiros, criada e difundida no século 19.
Para quem nunca havia usado um relógio de pulso antes de a ideia do Timension ser colocada em prática – “via as horas nos relógios dos outros, de cabeça pra baixo” – Hans Donner entende que o Timension chega para dar mais naturalidade ao que o tempo representa para a humanidade. “O Timension nada tem a ver com ponteiros, cronometragens e divisões exatas. Inventaram números para interpretar o tempo, mas este curso precisa de suavidade e de poesia’, explica Hans, que pode ser visto como o homem que conseguiu suavizar a passagem do tempo. “O mundo é dinâmico, as pessoas não querem ficar presas a paradigmas. Santos Dumont popularizou o relógio de pulso no século 20 porque aquilo tornou-se novo aos olhos das pessoas. Quando pensei em definir o tempo não me prendi a dados fixos nem à história dos relógios e dos seus criadores. Vejo no Timension uma maneira abstrata de sentir a passagem do tempo”, define.
Da mesma forma que com o advento dos gravadores de imagem ninguém mais foi obrigado a assistir a um programa de TV em horário pré-determinado, é possível que o novo tempo precise de outras referências; segundo as palavras do amigo Guto Franco, filho do ator Moacir Franco, “com o Timension, a nova forma de ver o tempo não é um marco apenas estético, mas também filosófico”. Entre alguns projetos, o novo relógio deve marcar presença em projetos arquitetônicos de mobiliário urbano em alguns países do mundo, como Angola e Cingapura.
O conceito também deve tornar-se acessível em produtos como relógios de pulso, telas de computadores e painéis de automóveis.
O Brasil como ponto de partida
Às 13h51, no meio da entrevista, sorrisos e gritos pipocam no local ao ser anunciado que o Rio de Janeiro fora a cidade escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. “Vamos colocar o Rio de Janeiro no seu lugar de direito entre as maiores e melhores cidades do mundo”, afirma um eufórico Hans, possivelmente o mais brasileiro entre os austríacos – ou alemães – em todo o planeta.
O sonho do Timension está sendo lapidado desde o ano de 1986, e foi posto em prática com um mostrador de oito metros de diâmetro instalado na Avenida Paulista, no centro da cidade de São Paulo. Para dar novas asas ao projeto, o Brasil é considerado por Donner como o local fundamental para o Timension se desenvolver. Para ele, relações entre o Brasil e o Timension não faltam, e o país é visto como o ponto de partida para o projeto decolar mundo afora. “O Brasil é a plataforma central do projeto e tem em sua beleza e alegria o cenário ideal para os acontecimentos da nova era. A imagem do Brasil que a mídia projeta para o mundo, muitas das vezes, é a imagem da escuridão. Ganhei um presente do universo e faço questão de dizer que tudo nasce no Brasil porque aqui é a expressão da espontaneidade, da emoção e temos esse lado luminoso que faz tudo funcionar de maneira alegre por aqui. Vamos atingir toda a população do mundo, que estará de olho no Brasil”, explica, já lembrando da Copa do Mundo e das Olimpíadas que aqui serão realizadas. Os projetos do Timension devem abarcar as principais cidades do país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Salvador.
Coube a Hans Donner chegar ao Brasil e perceber aqui a excelência de um país ao traduzi-lo em cores e múltiplas dimensões. O olhar estrangeiro enxergou no país algo que o Brasil ainda não conhecia, o seu próprio visual, ao mesmo tempo moderno, global e cosmopolita.
Para um projeto de tamanha envergadura dar certo no país, outras razões além do esporte não faltam, como a importância ecológica e ambiental e o desenvolvimento sustentável, exemplos que retratam um Brasil em expansão.
“As grandes decisões que levam em conta o futuro do planeta passam efetivamente pelo Brasil, e isso é um exemplo de quanto o país é significativo. O brasileiro passa a ser o porta-voz de um novo tempo para o mundo”, define Donner, que se considera um operário, um artífice a serviço do Brasil, em retribuição ao país que o acolheu e onde escolheu para fincar suas raízes.
Além do Timension, o Brasil inspira Hans Donner em vários outros projetos, como o “2014 Bis”, que pretende mostrar outras facetas do Brasil na Copa. “Tenho uma ligação muito forte com o Santos Dumont, o inventor do 14-Bis e um dos maiores difusores do relógio de pulso”, afirma. Outro projeto em pauta está relacionado às comemorações dos 50 anos de Brasília no ano que vem.
Cobras e sapos: novas formas de um mundo em expansão
Nascido na Alemanha e criado na Áustria, Hans iniciou sua paixão pelo Brasil em 1958, quando, com apenas 10 anos, acompanhou os jogos da Copa do Mundo de Futebol realizada na Suécia: “Eu era goleiro nas peladas da infância e virei logo fã do Gilmar, craque daquela seleção fantástica”, conta, lembrando que o primeiro título do Brasil em copas do mundo viria, para o mago da computação gráfica do país, em uma pequena e precária TV em preto e branco, já prenunciando que o Brasil e a dualidade entre claro e escuro iriam fazer parte de toda a sua vida.
Muito da inspiração e da energia que o faz criar novas formas de ver o mundo vem dos filhos João Henrique, de cinco anos, e José Gabriel, de quatro. Com o primeiro deles, a identificação vem da maneira mais direta possível, em forma de vida. Nesse caso, a vida animal como metáfora para uma nova realidade. “Quando João Henrique viu o Timension no meu pulso, ele disse que o relógio convencional marcava as horas como um sapo que salta, e que no meu a passagem do tempo desliza como uma cobra. Isso é o maior exemplo de que o homem precisa ver o tempo deslizar, de maneira leve e gradual”, orgulha-se.
Hans é daqueles pra quem a vida sempre conspira a favor. As coincidências que o mundo lhe oferece ultrapassam e muito a noção de acaso. “Os acontecimentos estão cheio de significados, é só olhar para as oportunidades que surgem”, afirma, tendo como espelho a própria vida, desde a escolha de vir para o Brasil e da oportunidade que tem agora de quebrar o paradigma de ver o tempo de uma forma geometricamente determinada, fixa e preestabelecida.
Apesar do prestígio, Hans é daqueles que consegue voar – assim como os pássaros em Hard – com os pés no chão. “A tecnologia e eu não somos exatamente íntimos. Mantemos uma relação, no mínimo, diferente. Nunca fui de pesquisar, de procurar conhecer os recursos disponíveis e, a partir deles, idealizar meus trabalhos. Primeiro chegam as ideias e depois me empenho para realizá-las. O curioso é que, mesmo distante da tecnologia, por uma força qualquer, as soluções vêm ao meu encontro”. Longe de trazer a si o rótulo de um designer tradicional, Donner quer ser visto como alguém cujas fronteiras ultrapassam os limites da televisão. Responsável pela criação da logomarca da Rede Globo, emissora que o lançou ao estrelato após inúmeros projetos de sucesso, entre aberturas e vinhetas para a TV, ele sabe da dificuldade de desatrelar a sua imagem desta quase que indelével marca.
“Não desprezo a importância do meu passado e presente aqui. Ganhei o melhor emprego de designer do mundo, mas sinto que agora surgiu a oportunidade de embelezar o planeta a cada segundo, minuto e hora”, afirma, com o mesmo vigor com que fala da universalidade do Timension. “Será um relógio da humanidade”.
Remetendo ao pássaro que cantou a infância de Hans Donner, o tempo da luz é agora.
Da mesma forma que com o advento dos gravadores de imagem ninguém mais foi obrigado a assistir a um programa de TV em horário pré-determinado, é possível que o novo tempo precise de outras referências; segundo as palavras do amigo Guto Franco, filho do ator Moacir Franco, “com o Timension, a nova forma de ver o tempo não é um marco apenas estético, mas também filosófico”. Entre alguns projetos, o novo relógio deve marcar presença em projetos arquitetônicos de mobiliário urbano em alguns países do mundo, como Angola e Cingapura.
O conceito também deve tornar-se acessível em produtos como relógios de pulso, telas de computadores e painéis de automóveis.
O Brasil como ponto de partida
Às 13h51, no meio da entrevista, sorrisos e gritos pipocam no local ao ser anunciado que o Rio de Janeiro fora a cidade escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. “Vamos colocar o Rio de Janeiro no seu lugar de direito entre as maiores e melhores cidades do mundo”, afirma um eufórico Hans, possivelmente o mais brasileiro entre os austríacos – ou alemães – em todo o planeta.
O sonho do Timension está sendo lapidado desde o ano de 1986, e foi posto em prática com um mostrador de oito metros de diâmetro instalado na Avenida Paulista, no centro da cidade de São Paulo. Para dar novas asas ao projeto, o Brasil é considerado por Donner como o local fundamental para o Timension se desenvolver. Para ele, relações entre o Brasil e o Timension não faltam, e o país é visto como o ponto de partida para o projeto decolar mundo afora. “O Brasil é a plataforma central do projeto e tem em sua beleza e alegria o cenário ideal para os acontecimentos da nova era. A imagem do Brasil que a mídia projeta para o mundo, muitas das vezes, é a imagem da escuridão. Ganhei um presente do universo e faço questão de dizer que tudo nasce no Brasil porque aqui é a expressão da espontaneidade, da emoção e temos esse lado luminoso que faz tudo funcionar de maneira alegre por aqui. Vamos atingir toda a população do mundo, que estará de olho no Brasil”, explica, já lembrando da Copa do Mundo e das Olimpíadas que aqui serão realizadas. Os projetos do Timension devem abarcar as principais cidades do país, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Salvador.
Coube a Hans Donner chegar ao Brasil e perceber aqui a excelência de um país ao traduzi-lo em cores e múltiplas dimensões. O olhar estrangeiro enxergou no país algo que o Brasil ainda não conhecia, o seu próprio visual, ao mesmo tempo moderno, global e cosmopolita.
Para um projeto de tamanha envergadura dar certo no país, outras razões além do esporte não faltam, como a importância ecológica e ambiental e o desenvolvimento sustentável, exemplos que retratam um Brasil em expansão.
“As grandes decisões que levam em conta o futuro do planeta passam efetivamente pelo Brasil, e isso é um exemplo de quanto o país é significativo. O brasileiro passa a ser o porta-voz de um novo tempo para o mundo”, define Donner, que se considera um operário, um artífice a serviço do Brasil, em retribuição ao país que o acolheu e onde escolheu para fincar suas raízes.
Além do Timension, o Brasil inspira Hans Donner em vários outros projetos, como o “2014 Bis”, que pretende mostrar outras facetas do Brasil na Copa. “Tenho uma ligação muito forte com o Santos Dumont, o inventor do 14-Bis e um dos maiores difusores do relógio de pulso”, afirma. Outro projeto em pauta está relacionado às comemorações dos 50 anos de Brasília no ano que vem.
Cobras e sapos: novas formas de um mundo em expansão
Nascido na Alemanha e criado na Áustria, Hans iniciou sua paixão pelo Brasil em 1958, quando, com apenas 10 anos, acompanhou os jogos da Copa do Mundo de Futebol realizada na Suécia: “Eu era goleiro nas peladas da infância e virei logo fã do Gilmar, craque daquela seleção fantástica”, conta, lembrando que o primeiro título do Brasil em copas do mundo viria, para o mago da computação gráfica do país, em uma pequena e precária TV em preto e branco, já prenunciando que o Brasil e a dualidade entre claro e escuro iriam fazer parte de toda a sua vida.
Muito da inspiração e da energia que o faz criar novas formas de ver o mundo vem dos filhos João Henrique, de cinco anos, e José Gabriel, de quatro. Com o primeiro deles, a identificação vem da maneira mais direta possível, em forma de vida. Nesse caso, a vida animal como metáfora para uma nova realidade. “Quando João Henrique viu o Timension no meu pulso, ele disse que o relógio convencional marcava as horas como um sapo que salta, e que no meu a passagem do tempo desliza como uma cobra. Isso é o maior exemplo de que o homem precisa ver o tempo deslizar, de maneira leve e gradual”, orgulha-se.
Hans é daqueles pra quem a vida sempre conspira a favor. As coincidências que o mundo lhe oferece ultrapassam e muito a noção de acaso. “Os acontecimentos estão cheio de significados, é só olhar para as oportunidades que surgem”, afirma, tendo como espelho a própria vida, desde a escolha de vir para o Brasil e da oportunidade que tem agora de quebrar o paradigma de ver o tempo de uma forma geometricamente determinada, fixa e preestabelecida.
Apesar do prestígio, Hans é daqueles que consegue voar – assim como os pássaros em Hard – com os pés no chão. “A tecnologia e eu não somos exatamente íntimos. Mantemos uma relação, no mínimo, diferente. Nunca fui de pesquisar, de procurar conhecer os recursos disponíveis e, a partir deles, idealizar meus trabalhos. Primeiro chegam as ideias e depois me empenho para realizá-las. O curioso é que, mesmo distante da tecnologia, por uma força qualquer, as soluções vêm ao meu encontro”. Longe de trazer a si o rótulo de um designer tradicional, Donner quer ser visto como alguém cujas fronteiras ultrapassam os limites da televisão. Responsável pela criação da logomarca da Rede Globo, emissora que o lançou ao estrelato após inúmeros projetos de sucesso, entre aberturas e vinhetas para a TV, ele sabe da dificuldade de desatrelar a sua imagem desta quase que indelével marca.
“Não desprezo a importância do meu passado e presente aqui. Ganhei o melhor emprego de designer do mundo, mas sinto que agora surgiu a oportunidade de embelezar o planeta a cada segundo, minuto e hora”, afirma, com o mesmo vigor com que fala da universalidade do Timension. “Será um relógio da humanidade”.
Remetendo ao pássaro que cantou a infância de Hans Donner, o tempo da luz é agora.
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