sexta-feira, 9 de abril de 2010
05. Solidão em Macondo
"Ao ser destampado pelo gigante, o cofre deixou escapar um hálito glacial. Dentro havia apenas um enorme bloco transparente, com infinitas agulhas internas nas quais se despedaçava em estrelas de cores a claridade do crepúsculo. Desconcertado, sabendo que os meninos esperavam uma explicação imediata, José Arcadio Buendía atreveu-se a murmurar:
- É o maior diamante do mundo.
- Não - corrigiu o cigano. - É gelo.
José Arcadio Buendía, sem entender, estendeu a mão para o bloco, mas o gigante afastou-a. "Para pegar, mais cinco reais", disse. José Arcadio Buendía pagou, e então pôs a mão sobre o gelo, e a manteve posta por vários minutos, enquanto o coração crescia de medo e de júbilo ao contato do mistério. Sem saber o que dizer, pagou outros dez reais para que os seus filhos vivessem a prodigiosa experiência. O pequeno José Arcadio negou-se a tocá-lo.
Aureliano, em compensação, deu um passo para diante, pôs a mão e retirou-a no ato. "Está fervendo", exclamou assustado. Mas o pai não lhe prestou atenção. Embriagado pela evidência do prodígio, naquele momento se esqueceu da frustração das suas empresas delirantes e do corpo de Melquíades abandonado ao apetite das lulas. Pagou outros cinco reais, e com a mão posta no bloco, como que prestando um juramento sobre o texto sagrado, exclamou:
- Este é o grande invento do nosso tempo."
A poucos dias do período momesco, senti-me impelido a voltar a falar de livros, e felizmente começou a brotar a listinha dos meus 5 maiores em todos os tempos.
Serve também para desanuviar os assuntos carnavalescos, e entre um ensaio e uma batucada, releio os classicaços da literatura e viajo em deslumbre com obras inesquecíveis e inigualáveis.
Começo essa com o cidação mais ilustre de Aracataca, ou Macondo, tanto faz, pois não há quem não desconfie que a cidade natal de Gabriel García Márquez não tenha inspirado o encantador povoado de "Cem Anos de Solidão".
Em meio a filhos que nascem em com rabo de porco ou em forma de lagartos, imensas pedras de gelo que queimam ardorosamente, cortejos de bobrboletas amareladas, indivíduos engolidos pro formigas e uma inesgotável incapacidade de amar reina o deslumbramento de Gabo, que passa pelas oito gerações dos Buendía - com destaque para o inesquecível coronel Aureliano - e deixa rastros de fatos históricos entremeados a um farto uso de crendices, lendas, feitiços e paixões.
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