sexta-feira, 13 de novembro de 2009

no princípio era o TEXTO 16 - sangue e areia


OLHA que coisa mais linda: as garotas de IPANEMA - 1961 tomavam cuba-libre, dirigiam Kharmann Ghias e voavam pela Panair. Usavam frasqueira, vestido-tubinho, cílio-postiço, peruca e laquê. Diziam-se existencialistas, adoravam arte abstrata e não perdiam um filme da Nouvelle Vague. Seus points eram o Beco das Garrafas, a Cinemateca, o Arpoador. Iam à praia com a camisa social do irmão e, sob esta, um biquíni que, de tão insolente, fazia o sangue dos rapazes ferver da maneira mais inconveniente.
Mas a querida PanAir nunca mais voou, a Nouvelle Vague é um filme em preto e branco e ninguém mais toma cuba-libre- quem pensaria hoje em misturar rum com Coca-Cola ? Quanto àquele biquíni, era mesmo insolente, embora, por padrões subseqüentes, sua calcinha contivesse pano para fabricar dois ou três pára-quedas. Dito assim, é como se, em 61, o céu do Brasil ainda fosse povoado por pterodáctilos.
Mas HÁ UMA EXCEÇÃO. A música que aquelas garotas escutavam na época continuam a ser ouvida - um milênio depois - como se brotasse das esferas: A Bossa Nova.
Primeiro parágrafo de "A Onda Que Se Ergueu no Mar", Ruy Castro, 2001.

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