“Um belo dia, tudo isso acabou. Sem aviso prévio, ele perdeu os poderes. Olhares que um dia correspondiam ao seu deslizar como se passassem através dele. Da noite para o dia, virou um fantasma. Se queria uma mulher, tinha de aprender a conquistá-la; muitas vezes, de uma forma ou outra, tinha de comprá-la (...)
E, surpreendentemente, gota a gota, a música vem. Ás vezes o contorno de uma frase lhe ocorre antes de ele saber qual será a letra; às vezes, as palavras pedem uma cadência; às vezes, uma sombra de melodia, que pairou dias e dias nas bordas da audição, se desdobra e abençoadamente se revela".
Aclamado como o maior escritor africano dos últimos anos, o ritmo alucinante e veloz da narrativa do sul-africano J.M. Coetzee é mesmo arrebatador. Nesse romance, ele emprega um estilo preciso ao descrever atos violentos numa Cidade do Cabo pós-apartheid. A segregação racial é o ponto de partida para a trama, e os personagens- brancos e negros- se vêem em papéis invertidos e têm na incompreensão do outro a base para seus atos e discursos. O acúmulo de situações, inflamado pelos inúmeros sofrimentos descritos, fazem da obra leitura obrigatória entre os que se identificam com temas como racismo, velhice e traição.
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