quinta-feira, 23 de abril de 2009

BRAHMS, grades e KAFKA (K.???)



estava escutando BRAHMS em Filadélfia em 1942. Numa vitrola pequena. o segundo movimento da segunda sinfonia. bebia devagar um vinho do PORTO e tragava um charuto ordinário.
BATIDA NA PORTA. pensei que fosse algúem para me entregar o prêmio Nobel ou Pulitzer.
ERAM DOIS sujeitos enormes com cara de burros e grossos.

BUKOWSKI?

é.

mostraram o EMBLEMA: F.B.I.

NOS ACOMPANHE. melhor vestir o casaco. vai se ausentar por uns tempos.

Não sabia o que tinha feito. nem perguntei. um deles tirou o Brahms da vitrola. descemos a escada e saímos na rua. continuei me esforçando para lembrar o que podia ter feito e a única coisa que me ocorria é que, talvez, de porre, houvesse matado alguém.

(...) me levaram lá pra baixo, pra uma cela de cor laranja. era sábado de tarde. do ouro lado da rua havia uma loja de discos. o alto-falante tocava música para mim. sentia vontade de chorar, mas não saía lágrima alguma. era só uma espécie de tristeza, de náusea.

A PRISÃO DE MOYAMENSINGME LEMBRAVA UM CASTELO ANTIGO. 2 vastos portões de madeira abriram pra me acolher. até hoje me admiro que não tivéssemos que passar por cima de um fosso.


A ESSA ALTURA JÁ SABIA; tinha perguntado no caminho. FUI CONVOCADO (pelo exército) e não me apresentei.
tem duas coisas aqui que ninguém topa: recruta que não se apresenta e EXIBICIONISTA TARADO.

mas sou de fato inocente. me mudei e esqueci de deixar o novo endereço na junta de recrutamento. botaram os caras atrás de mim e agora tô em cana.

mas agora só penso em catar os piolhos. comecei a catar e matar os meus. eu tinha 13 e o meu parceiro de cela 18. os meus fui colocando em cima da mesinha de MADEIRA.


Excerto de 'Fabulário Geral do Delírio Cotidiano", Charles Bukowski.







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