CAI A TARDE...

A olhos vistos, o entardecer em um dia comum numa cidade como a do Rio de Janeiro nada deve ter de diferente; quem assim pensou tem ampla razão, porque a travessia realizada em uma das barcas que fazem a travessia a Niterói nada de novidade apresentou: o mesmo sol, a mesma (proposta de) lua, o memo "zóio do meu amor, ENFIM, um dia a mais na rotina de estudante de Jornalismo.

O fato é que neste dia comum de céu claro do primeiro semestre do ano de 2000 assisti em uma das aulas da disciplina "Teoria e Linguagem Cinematográfica" ao filme "Meshes of The Afternoon", da ucraniana até então por mim desconhecida Maya Deren(fotos abaixo).

Ainda estarrrecido com as complexas e (então pra mim e pra maioria) surrealistas imagens, o filme aposta na subjetividade do comportamento humano como forma de explicar as nossas próprias contradições; tesouras cortando a tela, vasos sendo quebrados ao chão, objetos do cotidiano sendo "relativizados", situações sendo desequilibradas, em contraposição ao comum do que a maioria do "mundo normal" - incluam nesta os estudantes de comunicação, em principal foco os estudantes daquela turma - trouxeram certa perplexidade à maioria.

Acabo de ficar sabendo que outras obras da cineasta aportaram pelo Rio de Janeiro em março, e lamento que o meu contato com o trabalho dela tenha se dado apenas numa tarde em que as travessias e delírios eram constantes

Nascida na Ucrânia em 1917, Maya apostava em trabalhos que ignoravam limites narrativos e estéticos. Não à toa foi considerada a avó do cinema experimental. E é óbvio que depois da experiência oferecida por Maya. AS TARDES de deleite nas barcas da já citada travessia não foram mais as mesmas, tanto pelas aventuranças artísticas quanto pelas observações dos astros.