segunda-feira, 11 de julho de 2011

POSTO QUE É CHAMA...





Há tempos enxergo o embate entre genética e ambiente como vital para as transformações humanas. As principais mudanças têm como base a relação entre o que o material genético lhe deu e a sua relação com o ambiente. Servem como exemplos um criminoso (não sabemos se sua personalidade está determinada pelos genes ou se ele é apenas alguém de talento que por falta de oportunidade/ orientação dirige sua energia para o crime); ou mesmo situações mais simples, como a calvície, cuja origem pode estar entre a predisposição genética para tal ou em um ambiente desfavorável (insônia, estresse etc).

O retorno desse preguiçoso escriba a este espaço, após nove intermináveis meses de ausência, não se daria por motivos insignificantes. Coube à sétima arte fazer as honras da volta e, como pano de fundo, a condição humana.
No caldeirão, não apenas a relação entre genética e ambiente, mas também Édipo, os conflitos no Oriente Médio e o papel da mulher nas sociedades orientais, cuja ênfase no drama nubla as possibilidades de enxergarmos o filme como arte, apenas.



No longa “Incêndios”, do diretor canadense Denis Villeneuve, o comportamento do ser humano ante o destino reside no sofrimento da matriarca (em excepcional interpretação da belga Lubna Azabalg) e vai além do que a nossa razão pode suportar. Ligado a isso, a fotografia exuberante e apropriada se dá com a falta de perspectiva de uma paisagem sem nada a oferecer de próspero, que alia-se ao sofrimento dos que estão destinados a nascer/crescer/perecer em terras tão hostis (sim, etnocentrismo meu, assumo).

Em "Incêndios”, o país, a guerra, a época histórica ou os episódios não são nomeados, mas fazem referências a vários acontecimentos do Oriente Médio ao longo das últimas décadas de guerras, invasões, massacres, limpeza étnica, assassinatos políticos e afins.
Se em Édipo-Rei, culpa e existência mostram-se inseparáveis e o homem deve pagar por sua individualização, aqui a culpa ganha outros contornos e parece ser “compartilhada” pela mãe com os filhos a partir de um testamento, cujo propósito é que esses mesmos filhos (no caso gêmeos) encontrem o irmão e o pai perdidos (não só fisicamente, mas em sonhos, descobertas e história de vida).

Enterrem-me sem caixão, nua e sem orações, com a face voltada para a terra. Nada de epitáfio para aqueles que não cumprem suas promessas"; são as últimas palavras da protagonista. Sinal de que o ambiente vence a batalha contra os genes.