terça-feira, 31 de março de 2009

28. mussapere (para Valéria)












Reedito esta postagem por dois motivos: quando este entrou em contato pela primeira vez com a virtuália, a caríssima Valéria Martins, do Pausa do Tempo (http://www.pausadotempo.blogspot.com/) estava em período de viagens e provavalmente, desapercebeu-se destes escritos; e também volto a isto porque o meu tio-avô, o lendário Natalício Moreira Lima, ou Nato Lima, ESTÁ NO Rio de Janeiro, com quem almoçarei com nesta quarta-feira, dia 1 de abril de 2009, em um charmoso bairro chamado Largo do Machado - onde, segundo o tio Nato, "perto do Palácio do Catete, local onde (o ex-presidente da República) Getúlio Vargas passou desta para melhor."


Falar de Nato Lima e dos Indios Tabajaras é sempre gratificante para mim: primeiro pelo contato direto que tenho com informações sobre eles, vindas de meu avô, Assis Lima, que possivelmente integrou a primeira formação do que viria a ser posteriormente a dupla "Os Índios Tabajaras", formada por dois de seus irmãos, Nato Lima e Tenor Lima. Depois surgem as imagens que crio em meus devaneios, ao imaginar toda uma série de situações pelos quais eles passaram, desde a infância no interior do Ceará, mais precisamente na Serra do Araripe, ao estrelato nas principais capitais das cidades do mundo. Os relatos que ouço desde criança formam um inventário de situações por mim recebidas que vivem a me emocionar e cada vez mais admirar as belas apresentações musicais que o duo de violões criou; entre estas clássicos da música internacional, como "Minute Walze" e "Mazurka" e também canções do domínio público brasileiro e do regional indígena, como "Asa Branca", "Hora Stacatto" e"Lua Girou".


No primeiro vídeo, Nato Lima (ou MUSSAPERE, que segundo o mesmo significa "FILHO NÚMERO TRÊS em seu idioma de origem) aparece em dois momentos: nos dias atuais, em sua casa em Nova York, em uma brilhante demonstração de sua técnica, e também em uma quando jovem apresentação com o irmão, Tenor Lima, da visceral "O vôo do besouro", do compositor russo Rimsky-Korsakov.
No segundo vídeo, momentos entre Nato e Tenor em caráter indígena, deixando claro muito da sua genialidade em ambos os estilos: o clássico e o rústico.





segunda-feira, 30 de março de 2009

OBSCURO objeto de desejo

Por Nelson D' Aires (http://www.nelsondaires.net/)

"Não há caminho mais obscuro para o homem do que aquele que o leva para si mesmo."

Herman Hesse ( 2 de julho de 18779 de agosto de 1962), escritor alemão.

domingo, 29 de março de 2009

GERENTES, a missão!




Pra essa galera que adora um cargo...

sexta-feira, 27 de março de 2009

chás E DICAS secas












Para aprender, não leia Karl Marx, merda seca demais. por favor, aprendam o espírito.

MARX É APENAS TANQUES INVADINDO PRAGA.

não se deixe pegar dessa maneira, por favor. antes de tudo, leia Celine, o maior escritor em 200 anos. naturalmente, o ESTRANGEIRO, de Camus tem que entrar. CRIME E CASTIGO. OS IRMÃOS KARAMAZOV. todo o KAFKA. todos os trabalhos do desconhecido JOHN FANTE. as estórias curtas de Turgenev. EVITE Faulkner, Shakespeare, E ESPECIALMENTE George Bernard Shaw, A MAIS INFLADA FANTASIA que floresceu em todos os TEMPOS, uma verdadeira merda que expandiu-se com conexões políticas e literárias para muito além do que se possa imaginar. o único sujeito mais jovem que consigo pensar com a estrada pavimentada à sua frente e BEIJAR-LHE A BUNDA sempre que necessário foi HEMINGWAY, mas a diferença entre HEM e SHAW era que HEM escreveu algumas coisas boas no começo e SHAW só conseguiu escrever asneiras durante toda a sua vida.


portanto, aqui estamos nós misturando Revolução com Literatura e ambos combinam. DE ALGUMA FORMA TUDO COMBINA, mas eu fiquei cansado e espero pelo amanhã.

será que o HOMEM baterá à minha porta???

quem se interessa???


espero que isso vos faça vomitar nosso chá.




Charles Bukowski, "Notas de Um Velho SAFADO."

transformar o TÉDIO em melodia...


"A felicidade está apenas na imaginação."

Por Johannes Wolfgang Amadeus Mozart, compositor austríaco.

quinta-feira, 26 de março de 2009

CAÇAS E caçadores



"A crise que se manifesta no país foi provocada pela minoria de privilegiados que vive de olhos voltados para o passado e teme enrentar o luminoso futuro que se abrirá à democracia pela integração de milhões de patrícios nossos."

Por João Goulart, então presidente da República, em discurso realizado em 20 de março de 1964; citado por Alberto Dines em "Os idos de março e a queda em abril."


Os generais Ernesto Geisel, Hugo Abreu e Golbery do Couto e Silva com o chanceler Azeredo da Silveira, em foto publicada pela revista VEJA em 1978.


"Quem fala em disciplina, senhores sargentos, quem a alardeia, quem procura intrigar o presidente da República com as Forças Armadas em nome da disciplina, são os mesmos que, em 61, em nome da mesma disciplina e da pretensa ordem e legalidade que eles diziam defender, prenderam dezenas de sargentos(...) A disciplina se constrói sobre o respeito mútuo, entre os que comandam e os que são comandados."

Por Ernesto Geisel, após ouvir o discurso do presidente João Goulart.


concordância entre gênero, número e PESSOA (para agnes rissardo)


Sobre Fernando Pessoa
José Saramago

Era um homem que sabia idiomas e fazia versos. Ganhou o pão e o vinho pondo palavras no lugar de palavras, fez versos como os versos se fazem, como se fosse a primeira vez. Começou por se chamar Fernando, pessoa como toda a gente. Um dia lembrou-se de anunciar o aparecimento iminente de um super-Camões, um camões muito maior que o antigo, mas, sendo uma pessoa conhecidamente discreta, que soía andar pelos Douradores de gabardina clara, gravata de lacinho e chapéu sem plumas, não disse que o super-Camões era ele próprio.

Afinal, um super-Camões não vai além de ser um camões maior, e ele estava de reserva para ser Fernando Pessoas, fenómeno nunca visto antes em Portugal.

Naturalmente, a sua vida era feita de dias, e dos dias sabemos nós que são iguais mas não se repetem, por isso não surpreende que em um desses, ao passar Fernando diante de um espelho, nele tivesse percebido, de relance, outra pessoa. Pensou que havia sido mais uma ilusão de óptica, das que sempre estão a acontecer sem que lhes prestemos atenção, ou que o último copo de aguardente lhe assentara mal no fígado e na cabeça, mas, à cautela, deu um passo atrás para confirmar se, como é voz corrente, os espelhos não se enganam quando mostram. Pelo menos este tinha-se enganado: havia um homem a olhar de dentro do espelho, e esse homem não era Fernando Pessoa.

Era até um pouco mais baixo, tinha a cara a puxar para o moreno, toda ela rapada. Com um movimento inconsciente, Fernando levou a mão ao lábio superior, depois respirou fundo com infantil alívio, o bigode estava lá. Muita coisa se pode esperar de figuras que apareçam nos espelhos, menos que falem. E porque estes, Fernando e a imagem que não era a sua, não iriam ficar ali eternamente a olhar-se, Fernando Pessoa disse: “Chamo-me Ricardo Reis”. O outro sorriu, assentiu com a cabeça e desapareceu.

Durante um momento, o espelho ficou vazio, nu, mas logo a seguir outra imagem surgiu, a de um homem magro, pálido, com aspecto de quem não vai ter muita vida para viver. A Fernando pareceu-lhe que este deveria ter sido o primeiro, porém não fez qualquer comentário, só disse: “Chamo-me Alberto Caeiro”. O outro não sorriu, acenou apenas, frouxamente, concordando, e foi-se embora. Fernando Pessoa deixou-se ficar à espera, sempre tinha ouvido dizer que não há duas sem três.

A terceira figura tardou uns segundos, era um homem daqueles que exibem saúde para dar e vender, com o ar inconfundível de engenheiro diplomado em Inglaterra. Fernando disse: “Chamo-me Álvaro de Campos”, mas desta vez não esperou que a imagem desaparecesse do espelho, afastou-se ele, provavelmente tinha-se cansado de ter sido tantos em tão pouco tempo.

Nessa noite, madrugada alta, Fernando Pessoa acordou a pensar se o tal Álvaro de Campos teria ficado no espelho. Levantou-se, e o que estava lá era a sua própria cara. Disse então: “Chamo-me Bernardo Soares”, e voltou para a cama.

Foi depois destes nomes e alguns mais que Fernando achou que era hora de ser também ele ridículo e escreveu as cartas de amor mais ridículas do mundo. Quando já ia muito adiantado nos trabalhos de tradução e poesia, morreu. Os amigos diziam-lhe que tinha um grande futuro na sua frente, mas ele não deve ter acreditado, tanto assim que decidiu morrer injustamente na flor da idade, aos 47 anos, imagine-se.

Um momento antes de acabar pediu que lhe dessem os óculos: “Dá-me os óculos” foram as suas últimas e formais palavras. Até hoje nunca ninguém se interessou por saber para que os queria ele, assim se vêm ignorando ou desprezando as últimas vontades dos moribundos, mas parece bastante plausível que a sua intenção fosse olhar-se num espelho para saber quem finalmente lá estava. Não lhe deu tempo a parca. Aliás, nem espelho havia no quarto.

Este Fernando Pessoa nunca chegou a ter verdadeiramente a certeza de quem era, mas por causa dessa dúvida é que nós vamos conseguindo saber um pouco mais quem somos.

quarta-feira, 25 de março de 2009

salvos e perdidos em desertos


"Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia. E, no entanto, o leitor se desgasta, se esvai, em milhares de livros mais áridos do que três desertos."
NELSON RODRIGUES

terça-feira, 24 de março de 2009

sambandinhos em desvario



MAU GOSTO
Por Caetano Veloso, em 5/03/2009:


Cordão é sinônimo de bloco. Só quem saía sem corda eram os trios elétricos. Das grandes sociedades às escolas de samba (como lembro dos Diplomatas de Amaralina!), dos Filhos de Gandhi aos Internacionais, do Crocodilo ao Ilê Aiyê - todos sempre saíram com cordão de isolamento. Isso nunca impediu os foliões de brincarem carnavais inteiros de graça. Ainda hoje é assim. Moreno, meu sábio filho, nunca entrou num camarote ou num cordão - nunca deixou de brincar mais do que eu, nunca reclamou. Quando nossa maior paixão era o Olodum, eu subia no caminhão com Paulinha Lavigne (Aloísio Mercadante era companheiro querido e animado), usava fantasia e dançava dentro da corda, Moreno brincava a noite toda na pipoca.

(...) A primeira vez que vi as escolas de samba do Rio foi na Avenida Presidente Vargas, com Dedé. Choramos de emoção: era 1965, o ano em que a Império Serrano saiu com os “Cinco bailes na história do Rio”. Estávamos na arquibancada. Naquele tempo havia uma arquibancada longa de um lado só da avenida: do outro lado era uma corda guardada pela polícia. Quem não tinha dinheiro para comprar lugar na arquibancada ficava de pé na rua, sambandinho, colado na corda. Os foliões que tentaram seguir as escolas foram repelidos a cacetadas pela polícia montada. Dedé e eu ficamos chocados, mas ninguém sequer reclamava. Nem uma palavra nos jornais. Nós próprios terminávamos sempre sendo retomados pela beleza do espetáculo e desistíamos de implicar com a dureza da polícia.


















Depois o Darcy Ribeiro construiu o Sambódromo. Paulinho da Viola era contra - acho que ainda hoje não se conforma com a ideia de “praça da apoteose”, muito menos com a exclusão do folião pobre, que olha por frestas, do alto de viadutos, pouco pode ver.
Antes de ver o de Salvador, já tinha, aos 13 anos, passado o carnaval no Rio. Ver a Avenida Rio Branco vazia e sem animação me cortou o coração nos anos 90. Estava tudo reduzido aos desfiles das escolas. Há 4 anos, passei os dias de carnaval no Rio, sem ir ao carnaval. Estava sofrendo, de luto por dentro, não queria ir ao Sambódromo. Fui com Antonio Cicero e Marcelo Pies ver uma exposição no CCBB. Isso fica no centro, perto da Candelária, que é onde a Rio Branco desagua na Presidente Vargas. Para minha surpresa, vi muita gente fantasiada por ali. Pedi licença a Cicero e Marcelo e fui olhar a avenida. Chorei de emoção: estava como quando eu tinha 13 anos: cheia de “clóvis”, blocos, famílias fantasiadas, tudo. No dia seguinte Hermano Vianna me chamou para ver um mini-bloco que Kassin tocava na Avenida Atlântica (eu estava num apart-hotel entre Copa e Ipanema). A Atlântica estava vazia. Mas, voltando de lá, vi burburinho no Arpoador. Fomos olhar e Ipanema estava apinhada de gente. Nos disseram que o Monobloco tinha passado horas antes. A turba remanecente estava pronta para um carnaval pernambucano, baiano, pronta para tudo. Não havia mais blocos. Sobretudo me impressionou a ausência total dos poderes públicos: os vendedores improvisados paravam no meio do safalto, em qualquer lugar. Lembrei-me de quanta coisa se fez na Bahia e no Recife nestes anos. Há regras para a distribuição dos vendedores. Há proibições, planejamento. O Rio oficial porta-se como se nada houvesse além do Sambódromo. Ouço que o número de blocos cresceu enormemente. Que o folião pipoca é multitudinário outra vez no meu Rio. Fico tão feliz que nem dá para explicar.

9 IMAGENS EM 2008

Por John Kolesidis, que registrou os protestos anti-governistas em Atenas em 2008.


Walter Astrada, Nairobi, Quênia.
Gleb Garanich, que registrou os bombardeios em Gori, na Geórgia.

Carlos F. Gutierrez, erupção do vulcão Chaiten, no Chile.

Por Chiba Yasuyoshi, fotógrafo japonês que registrou os conflitos entre as tribos no Quênia.

Por Carlos Cazalis, fotógrafo mexicano que registrou os moradores de rua de São Paulo, no Brasil.



Steve Winter, que conseguiu registrar um raríssimo leopardo polar.



Mark Dadswell, final dos 200 metros rasos dos Jogos Olímpicos de Pequim.


Por Tomasz Gudzowaty, que fotografou um jóquei nascido na Mongólia.

segunda-feira, 23 de março de 2009

no princípio era o texto 6 - ESCRITORAS



61. Primavera, Adriana Lisboa:
Cinzento, todo cinzento. Sob uma tarde cinzenta. Sob as asas havia também um pouco de amarelo, notei. A buganvília quase não tem folhas: só flores. Magenta, cor-de-rosa, um híbrido pleno e doloroso. Sobre a mesa da varanda, o cacto se curvou um pouco por causa da última ventania. E no entanto nos basta um momento como este. Telhas de zinco, telhas de cerâmica, um pára-raios. Um cata-vento em forma de flor: roxa, com o miolo preto.


62.Felicidade, Katherine Mansfield:
Embora Bertha Young já tivesse trinta anos, ainda havia momentos como aquele em que ela queria correr, ao invés de caminhar, executar passos de dança subindo e descendo da calçada, rolar um aro, atirar alguma coisa para cima e apanhá-la novamente, ou ficar quieta e rir de nada: rir, simplesmente.

63.Rahel, Hannah Arendt:
Que história! Fugitiva do Egito e da Palestina, aqui estou, e encontro ajuda, amor e cuidado entre vocês. Com sublime enlevo penso nessas minhas origens e em todos esses encadeamentos do destino, através dos quais as lembranças mais antigas da raça humana colocam-se lado a lado com os últimos desenvolvimentos.

64.De afrodisíacos , Adélia Prado:
Tenho um pouco de pudor de contar, mas só um pouco, porque sei que vou acabar contando mesmo. É porque lá em casa a gente não podia falar nem diabo, que levava sabão, quanto mais... ah, no fim eu falo. Coisa do Teodoro, ele quem me contou, você sabe, marido depois de um certo tempo de casamento fala certas coisas com a mulher. O seu não fala? Pois é, e de novo tem um tempão que aconteceu.
65. Pensar é transgredir, Lia Luft:
Certa vez errei uma tecla do computador, e m lugar de perdas" saiu "peras". Eu ia corrigir mas li de novo, achei muito mais bonito e deixei assim. Ninguém reclamou, nem os revisores.

66.Um caso obscuro, Rachel de Queiroz:
Não quero fazer campanha contra quem acredita em espíritos, quem tem visões ou ouve "avisos". Espiritismo é religião tão respeitável quanto qualquer outra. Quero apenas prevenir meu amigo leitor contra alguma conversão apressada, porque o fato é que as forças da terra muitas vezes se misturam com as forças do céu.O caso que passo a contar como exemplo naturalmente que e verídico. Se fosse a cronista inventar um conto, teria que apurar muito mais o enredo e os personagens, dar-lhes veracidade e complexidade. E, aliás, como ficção ele não teria importância nem sentido. O seu valor único é a autenticidade.


67. Colheita, Nélida Piñon:
Um rosto proibido desde que crescera. Dominava as paisagens no modo ativo de agrupar frutos e os comia nas sendas minúsculas das montanhas, e ainda pela alegria com que distribuía sementes. A cada terra a sua verdade de semente, ele se dizia sorrindo. Quando se fez homem encontrou a mulher, ela sorriu, era altiva como ele, embora seu silêncio fosse de ouro, olhava-o mais do que explicava a história do universo.

68.Retrato de uma londrina, Virginia Woolf:
Ninguém pode se considerar expert sobre Londres se não conhecer um verdadeiro cockney¹; se não dobrar numa rua lateral, longe das lojas e dos teatros, e bater em uma porta particular numa rua de casas particulares.Casas particulares em Londres têm tendência a serem muito parecidas. A porta se abre para um vestíbulo escuro, ergue-se uma escada estreita; do patamar superior abre-se uma dupla sala de estar e nessa dupla sala de estar vê-se dois sofás, um de cada lado de um fogo crepitante, seis poltronas e três compridas janelas dando para a rua. Sempre é matéria de considerável conjectura o que acontece na segunda metade da sala dos fundos debruçando-se para os jardins de outras casas.

Cockney: nativo de Londres, especialmente do East End, ou falante de seu dialeto. (N. da T.)

69. O espelhinho, Lívia Garcia-Roza:
Custódio não saía sem o pente e sem o seu espelhinho. Pequeno, redondo, baratinho, comprado em camelot, como ele dizia, porque assim as coisas ganhavam outras credenciais. O espelhinho tinha no verso o escudo do seu clube do coração, o rubro-negro tantas vezes campeão. Flamengo! Flamengo!— Ainda não foi, Custódio?— Estou indo, estava nas preparatórias, lembrando do mais querido.— Chega. Vai...— Não estou parado, Clotilde, estou nos lances finais...— E Custódio se vestia, dançando sozinho, agarradinho com ele mesmo.— Pára com isso, homem...— Me preparando pra entrar em campo, mulher, mostrar meus dribles, voltar em grande estilo...

70.A Repartição dos Pães, Clarice Lispector:
Era sábado e estávamos convidados para o almoço de obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos obrigados a pousar entre estranhos.

heros and poems


The baker, by Raymond Carver

"Then Pancho Villa came to town,hunged the mayorand summoned the old and infirm Count Vronsky to supper. Pancho introduced his new girl friend, along with her husband in his white apron, showed Vronsky his pistol, then asked the Count to tell himabout his unhappy exile in Mexico. Later, the talk was of women and horses. Both were experts. The girl friend giggledand fussed with the pearl buttonson Pancho's shirt until, promptly at midnight, Pancho went to sleepwith his head on the table. The husband crossed himselfand left the house holding his bootswithout so much as a signto his wife or Vronsky. That anonymous husband, barefooted, humiliated, trying to save his life, heis the hero of this poem."


Raymond Carver (foto) nasceu em 1938 na cidade americana de Clatskanie, no estado de Oregon. Sua primeira coletânea de contos, Will You Please Be Quiet, Please?, foi publicada em 1976, mas sua estréia como poeta foi com o livro Near Klamath, publicado em 68. Seu livro mais conhecido é What We Talk About When We Talk About Love (1981), e muitos de seus contos seriam adaptados pelo diretor Robert Altman no filme Short Cuts. Raymond Carver morreu de câncer aos 50 anos.

domingo, 22 de março de 2009

bandeiras e direções

Yoichi Okamoto (1915-1985)



No dia 20 de março de 1964, o presidente (norte-americano) Lyndon Johnson (à direita na imagem, ladeado pelo senador Richard Russell e pelo quadro de ninguém menos que George Washington à esquerda, em foto registrada na Casa Branca em 7 de dezembro de 1963) autorizara a formação de uma força naval para intervir na crise brasileira, caso isso viesse a parecer necessário.
Quando o embaixador Lincoln Gordon expôs seu plano, o chefe da CIA, John McCone, revelou que um empresário paulista (ALBERTO BYINGTON) procurara a CIA e pedira que se estudasse um sistema de distribuição de combustível para abastecer as áreas insurretas.
Nesses mesmos dias o coronel Cordeiro de Farias fizera solicitação semelhante a Vernon Walters, (adido do exército americano em Roma que estava se transferindo para o Rio para cuidar do caso). Gordon pedira a Washington uma demonstração de força naval, para mostrar a bandeira, indicando em que direção ela tremulava. Diante da informação, decidiu-se incorporar alguns navios-tanques à frota. O Departamento de Defesa ficou encarregado então do trabalho logístico que viria a ser chamado de PLANO DE CONTINGÊNCIA.
"A Ditadura Envergonhada", Elio Gaspari.

sexta-feira, 20 de março de 2009

essenciais abolições


“Diz-se que o Carnaval é uma festa destinada a desaparecer. O que se vê , na realidade, é que o povo, sempre que se regojiza, faz carnaval. De modo que o carnavalesco, que é o especificamente popular de toda a festa, não mostra indícios de que vá se acabar. E desde o ponto de vista mais aristocrático, tampouco o Carnaval desaparece. Porque o essencial carnavalesco não é o de mascarar-se, e sim o de abolir-se a face. E não há ninguém tão bem resolvido com a sua própria face que não deseje estrear uma outra, num certo momento.”
Por Antonio Machado

quinta-feira, 19 de março de 2009

Pequeno Universo Shawiano



  • Não há amor mais sincero que o da comida.



  • A minha especialidade é ter razão quando os outros não a têm.



  • Quando um tolo pratica um ato de que se envergonha, declara sempre que fez o seu dever.



  • Quem nunca esperou não pode desesperar nunca.

  • Uma vida inteira de felicidade? Ninguém agüentaria: seria o inferno na terra.



  • O pior crime para com os nossos semelhantes não é odiá-los, mas demonstrar-lhes indiferença: é a essência da desumanidade.


  • Há duas tragédias na vida: uma, a de não alcançarmos o que o nosso coração deseja; a outra, de alcançá-lo.



  • Os ingleses nunca hão de ser escravos: eles são livres de fazer tudo o que o Governo e a opinião pública lhes permitem fazer.



  • O martírio é a única maneira de ganhar fama sem ter competência.


  • Quem deseja uma vida feliz com uma mulher bonita assemelha-se a quem quisesse saborear o gosto do vinho tendo a boca sempre cheia dele.

  • Não faças aos outros o que queres que te façam; os gostos deles podem ser diferentes dos teus.
  • Neste mundo sempre há perigo àqueles que o temem.

  • Não gosto de sentir-me em casa quando estou no estrangeiro.



Por George Bernard Shaw (na foto acima) -(1856-1950), polemista e dramaturgo; nasceu em Dublin, na Irlanda, e iniciou sua carreira como crítico de artes.

quarta-feira, 18 de março de 2009

9. FITZCARRALDO

Werner Herzog, 1982.



Corruptela de Fitzgerald - nome de grande importância, seja pela genialidade do escritor Francis Scott ou pela empatia do ex-presidente John Kennedy - FITZCARRALDO entrou no grupo dos nove preferidos porque se trata de um filme de um sonho, este cheio de delírios. Tal viagem se dá porque o personagem que dá nome à obra deseja como objetivo maior de vida construir um teatro de ópera na floresta amazônica a ser inaugurada pelo mítico tenor Enrico Caruso. Para tal, Fitz pretende enriquecer com a extração de borracha no local. Simples, não? TALVEZ, se tal "paranóia" (termo usado pelos críticos ao se depararem com o filme) não se confundisse com a prória vida do diretor, o alemão Werner Herzog.



Para começar, HERZOG, que sempre dispensou os efeitos especiais, "obrigou " a equpe a criar um barco de verdade, de mais de cem toneladas, que teve que ser arrastado pela selva; irreverente, endiabrado e com constantes delírios de grandeza, FITZCARRALDO, após desistir da construção de uma linha férrea em meio à floresta, não mede esforços e possui como único objetivo de vida a ser alcançado a construção do maior teatro já visto em um lugar completamente isolado do mundo.


Composto por uma trilha sonora espetacular, que mescla ópera e música popular com extremo bom gosto, e protagonizado com muita intensidade por um quase insuperável Klaus Klinski e por Cláudia Cardinale, o longa traz participações especialíssimas, entre eles José Lewgoy (que substituiu Mick Jagger), Milton nascimento e Grande Otelo, e prova que nada somos sem nossos sonhos, ainda que estes estejam muito distantes ou sejam vistos por muitos como impossíveis de serem realizados.






















terça-feira, 17 de março de 2009

rostos sonhadores



"DESPERDIÇO TEMPO E DINHEIRO NAS PISTAS DE CAVALOS PORQUE SOU LOUCO! Espero ganhar dinheiro bastante para não ter que trabalhar mais em matadouros, correios, docas e fábricas. A corrida ajuda de certo modo - vejo os rostos gananciosos, os rostos derrotados. Vejo os rostos sonhadores no início e os vejo depois, quando o mesmo pesadelo volta.
(...) Porém, as ondas de sorte têm um fim, e o dinheiro do aluguel se foi. Depois de perder o pagamento de uma semana em quatro horas, É MUITO DIFÍCIL VOLTAR PRA CASA E ENCARAR A MÁQUINA PARA ESCREVER UM MONTE DE BABOSEIRAS FLOREADAS."


Charles Bukowski em "Horsemeat", 1982.

segunda-feira, 16 de março de 2009

domingo, 15 de março de 2009

deuses em transe



Ao avistar a página sete de "O Globo" de ontem, percebo que o artigo do Zuenir Ventura trata do aniversário de Gláuber Rocha, que hoje completaria 70 anos. Sete vezes setenta, pausa no Zuenir e eu lembro de Barravento, de Deus e o Diabo, de Terra em Transe, de O Dragão da Maldade...

Voltemos ao citado artigo: ao falar do septuagésimo ano de Gláuber, ele lembra de coisas aparentemente invisíveis para mim - daí a importância dos grandes cronistas, nos fazer ver coisas embaçadas ou não-visíveis; de que o prório Gláuber vislumbrou que morreria cedo, de acordo com suas regras, superstições e profecias, o que aconteceu em 1981.
Na verdade, com tudo o que vi do Gláuber, o visionário, o reacionário, o impaciente, o falante, o contestador, pergunto a vocês em que tipo de transe o cara entraria ao (re)ver Sarneys, Collors, Delúbios, Valérios e outros tais?
ENQUANTO PROCURO O TEXTO DO ZUENIR PELAÍ", CITO O cineasta Walter Lima Jr., que certa vez disse, em entrevista ao jornal Fazendo Media,(http://www.fazendomedia.com/): "(...)queria ver se o Glauber estivesse vivo e vendo toda essa porcalhada que existe em Brasília hoje! Aposto que ele pegaria uma espada e faria justiça com as próprias mãos."

sábado, 14 de março de 2009

1. negativas em movimento

"O que houve em 1964 não foi uma revolução. As revoluções fazem-se por uma ideia, em favor de uma doutrina. Nós simplesmente fizemos um movimento para derrubar João Goulart. Foi um movimento contra, e não por alguma coisa. Era contra a subversão, contra a corrupção. Em primeiro lugar, nem a subversão nem a corrupção acabam. Você pode reprimí-las, mas não as destruirá. Era algo destinado a corrigir, nao a construir algo novo, e isso não é revolução."

Por Ernesto Geisel (à direita na foto), um dos principais líderes do golpe militar; foi presidente da República de 1974 a 1979.

sexta-feira, 13 de março de 2009

3 dias em desvarios



NA BOCA
MANUEL BANDEIRA

Sempre tristíssimas estas cantigas de carnaval
Paixão Ciúme Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
e nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
e gritava pedindo o esguicho de cloretilo:- Na boca! Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados
Dorinha meu amor...Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro:
_____________________________________[- Na boca! Na boca!

quinta-feira, 12 de março de 2009

no princípio era o texto 5 - LITERATURA BRASILEIRA





51. Brás Cubas, Machado de Assis, 1880:
Algum tempo hesitei se deveria abrir estas memórias pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço.



52. Raízes do Brasil, Sérgio Buarque de Hollanda, 1936:

A tentativa de implantação da cultura européia em extenso território, dotado de condições naturais, se não adversas, largamente estranhas à sua tradição milenar, é, nas origens da sociedade brasileira, o fato dominante e mais rico em consequências.



53. A caçada, Lígia Fagundes Telles, 1979:
A loja de antiguidades tinha o cheiro de uma arca de sacristia com seus anos embolorados e livros comidos de traça. Com as pontas dos dedos, o homem tocou numa pilha de quadros. Uma mariposa levantou vôo e foi chocar-se contra uma imagem de mãos decepadas.— Bonita imagem — disse ele.
A velha tirou um grampo do coque, e limpou a unha do polegar. Tornou a enfiar o grampo no cabelo.
— É um São Francisco.


54. Nove Noites, Bernardo Carvalho, 2002:

Isto é para quando você vier. É preciso estar preparado. Alguém terá que prevení-lo.Vai entrar numa terra em que a verdade e a mentira não têm mais os sentidos que o trouxeram até aqui.
Pergunte aos índios. Qualquer coisa. O que primeiro lhe passar pela cabeça. E amanhã, ao acordar, faça de novo a mesma pergunta. E depois d amanhã, mais uma vez. Sempre a mesma pergunta. E a cada dia receberá uma resposta diferente. A verdade está perdida entre todas as contradições e os disparates. Quando vier à procura do que o passado enterrou, é preciso saber que estará às portas de uma terra em que a memória não pode ser exumada, pois o segredo, sendo o único bem que se leva para o túmulo, é também a única herança que se deixa aos que ficam, como você e eu, à espera de um sentido, nem que seja pela suposição de um mistério, para acabar morrendo de curiosidade.

55. Atenção Ao Sábado, Clarice Lispector:
Acho que sábado é a rosa da semana; sábado de tarde a casa é feita de cortinas ao vento, e alguém despeja um balde de água no terraço; sábado ao vento é a rosa da semana; sábado de manhã, a abelha no quintal, e o vento: uma picada, o rosto inchado, sangue e mel, aguilhão em mim perdido: outras abelhas farejarão e no outro sábado de manhã vou ver se o quintal vai estar cheio de abelhas.


56. O Povo Brasileiro, Darcy Ribeiro, 1995:
A costa atlântica, ao longo dos milênios, foi percorrida e ocupada por inumeráveis povos indígenas. Disputando os melhores nichos ecológicos, eles se alojavam, desalojavam e realojavam, incessantemente. Nos últimos séculos, porém, índios de fala tupi, bons guerreiros, se instalaram, dominadores, na imensidade da área, tanto à beira-mar, ao longo de toda a costa atlântica e pelo Amazonas acima, como subindo pelos rios principais, como o Paraguai, o Guaporé, o Tapajós, até suas nascentes.

57. Lucíola, José de Alencar, 1872:
A senhora estranhou, na última vez em que estivemos juntos, a minha excessiva indulgência pelas criaturas infelizes, que escandalizam a sociedade com a ostentação do seu luxo e suas extravagâncias.



58. Estrela Solitária: Um Brasileiro Chamado Garrincha, Ruy Castro,1995:
Não foi preciso nem laçá-los - e olha que estávamos por volta de 1865. Bastou um pouco de mímica prometendo pinga, facas, espelhos.O pequeno grupo de índios saiu de seu esconderijo nas matas da Serra da Barriga, em Alagoas, aproximou-se dos brancos que lhes acenavam.Trezentos anos de história do Brasil já lhes tinham ensinado que os brancos eram velhacos, mentirosos e mais traiçoeiros que as cobras.

59. O Abolicionismo, Joaquim Nabuco:
Não há muito que se fala no Brasil em abolicionismo e partido abolicionista. A idéia de suprimir a escravidão, libertando os escravos existentes, sucedeu à idéia de suprimir a escravidão, entregando-lhe o milhão e meio de homens de que ela se achava de posse em 1871 e deixando-a acabar com eles. Foi na legislatura de 1879-80 que, pela primeira vez, se viu dentro e fora do Parlamento um grupo de homens fazer da emancipação dos escravos , não da limitação do cativeiro às gerações atuais, a sua bandeira política, a condição preliminar da sua adesão a qualquer dos partidos.


60. SAGARANA, João Guimarães Rosa,1946:
Era um burrinho pedrês, miúdo e resignado, vindo de Passa-Tempo, Conceição do Serro, ou não sei onde no sertão. Chamava-se Sete-de-Ouros, e já fôra tão bom, como outro não existiu e nem pode haver igual.
Agora, porém, estava idoso, muito idoso. Tanto, que nem seria preciso abaixar-lhe a maxila teimosa, para exiar os cantos dos dentes. Era decrépito mesmo a distância: no algodão bruto do pêlo - sementinhas escuras em rama rala e encardida, nos olhos remelentos, cor de bismuto, com pálpebras rosadas, quase sempre oclusas, em constante semi-sono; e na linha - fatigada e respeitável - uma horizontal perfeita, do começo da testa à raiz da cauda em pêndulo amplo, para cá, para lá, tangendo as moscas.










BIG MAC feliz!



A organização do Rio de Janeiro Champions Series anunciou nesta quarta-feira a vinda de um dos maiores mitos do tênis mundial para a Cidade Maravilhosa.Hoje começa o torneio onde ninguém menos que JOHN MCENROE será a opção principal da festa!
Pra quem nunca ouviu falar do "BIG MAC", - apelido dado pela imprensa norte-americana não apenas pelo seu estupendo talento como tenista mas também pelas big trapalhadas, brigas e confusões que arrumava tanto fora quanto dentro das quadras - o cara liderou o ranking de entradas da ATP em 1981, 83 e 84 e abocanhou sete Grand Slams na carreira (quatro no Aberto dos Estados Unidos e três em Wimbledon).
McEnroe, que nasceu na extinta Alemanha Oriental e naturalizou-se norte-americano no início dos anos 1980, acabou de completar 50 anos e está atrás de mais felicidades, ou melhor, confusões!
Será que ele vai aprontar algumas das suas no Rio de Janeiro??




quarta-feira, 11 de março de 2009

cinco anos em MADRI


"Peace dove graffiti in Madrid", fotografada por Daniel Lobo,

Imagem de Jordy Martinez
Em 11 de março de 2004, ocorreram três atentados simultâneos em Madrid contra quatro vagões de trem da cidade, que deixou 201 pessoas mortas e 1470 feridas, no maior atentado terrorista da história da capital espanhola.

terça-feira, 10 de março de 2009

frases que deram SAMBA! (UNDER CONSTRUCTION!)



"Numa sociedade de classes a cultura também é de classes.
A aparência de homogeneidade do Carnaval é só aparência mesmo.
A sociedade de classes está ali demarcada.
A moça boazuda sai na frente da bateria porque está protegida.
E o folião é transformado num cara que paga por um abadá para poder sair atrás do carro de
som e cercado por cordas."
J. Ramos Tinhorão, historiador, em 2005.











"Em 1993, a Globo me chamou para comentar os desfiles e eu só aceitei o convite porque o considerei uma deferência à minha pessoa. Mas depois disso eu não quis mais. Além disso, não entendo mais de escola de samba. Só entendo as de antigamente."
Sérgio Cabral, possivelmente o jornalista mais entendido sobre carnaval no país, que foi comentarista das transmissões da Rede Manchete de 1984 a 1991.

"O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual."
Joãosinho Trinta, em 1988, após a crítica ter falado mal do excessivo luxo do carnaval feito por ele na Beija-Flor naquele ano, e ANTES de estarrecer o mundo ao apresentar mendigos esfarrapados no desfile de 1989.



"Rapazes e moças cheirando lança-perfumes e aos abraços invadem o terreiro e instituem uma estranha maneira de deformação do samba, que, vindo do marginalismo para uma posição social simpática, volta ao passado marginal pela mão da juventude coca-cola." Fotolegenda publicada no Jornal do Brasil em 3 de fevereiro de 1948, às vésperas do carnaval daquele ano.

"A criação da Federação Brasileira das Escolas de Samba é fruto da politiquice. Foi criada para dar festas ao chefe da polícia."
Aloísio Neiva Filho, em 1947.


"Acho (o Paulo Barros, carnavalesco) um grande artista. Ele deveria expor suas criações na Bienal de São Paulo, certamente seria premiado. MAS CARNAVAL NÃO É A DELE. Ele não liga para a escola, aproveita-se dela para se promover. Se eu fosse presidente de escola de samba, ele não seria meu carnavalesco(...) Repito: ele não serve à escola. Se a escola vier bem ou se vier mal, tanto faz, o que importa é que ele venha bem."
Fernando Pamplona, ex-carnavalesco,ex- cenógrafo e professor da Escola de Belas Artes do Rio, em entrevista concedida ao site "O Dia na Folia" em 2008.






















"BRANCOS, DEVOLVAM AS ESCOLAS DE SAMBA AOS NEGROS."
Por Sérgio Cabral, durante as transmissão do desfile da Rede Manchete em 1989.

Dizem que o Salgueiro contrata figurinistas e bailarinos profisisonais para organizarem e dirigirem o espetáculo.É importante ouvir isso, porque jamais qualqer um de nós recebeu um centavo sequer pelo seu trabalho para o carnaval."Fernando Pamplona, em carta publicada na Tribuna da Imprensa em 1963 após ser acusado de profissionalismo nas suas relações com o Salgueiro.

O Sambódromo foi construído para produzir um espetáculo com interesses comerciais.
Funciona como os cordões de isolamento, que segrega as pessoas no Carnaval.
ISSO VIOLA O ESPÍRITO DA FOLIA.
É uma privatização do espaço público, e este espaço é a única coisa que o povo tem.
O poder público, ao privatizar este espaço, "TRAI" O CARNAVAL.
J. Ramos Tinhorão, historiador, em 2005.