sábado, 31 de janeiro de 2009

retrato perfeito e longevo


Reprodução de "O Grito", de Edvard Munch, cujo aniversário de morte completa 65 anos.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

ENSAIO SOBRE CEGUEIRAS



"Está na moda enfatizar os horrores da guerra. Eu não a acho assim tão horrorosa. A guerra é tão horrível quanto coisas que acontecem ao nosso redor todos os dias, se ao menos temos olhos para vê-las."

Ludwig Wittgenstein (1889-1951), filósofo austríaco.



Na'el Zohair Abu-Oun, 13 anos, morto em 1 março de 2008


Dena Balosha, 4 anos, morto em 29 de dezembro


Christine Turk, 14 anos, morta em 2 de janeiro.

Arafat Khajawa, morto em 29 de dezembro


Hama e Haya Talal Hamdam, 4 e 11 anos, mortos em 30 de dezembro.

Farah Al-Helo, 2 anos de idade, morto em 5 de janeiro


Omar Hussein Dardouna,14 anos, morto em 28 de fevereiro de 2008

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

memórias em poucas palavras

Todos os anos, em 27 de janeiro, "comemora-se" (apesar de nada termos a comemorar) o Holocaust Memorial Day, evento que tem por objetivo lembrar do extermínio de milhões de judeus e outros grupos considerados indesejados pelo regime nazista de Adolf Hitler. Além de prestar uma homenagem às suas vítimas, o HMD possui várias programas de conscientização e é o organizado pelo Holocaust Memorial Day Trust, ONG localizada no Reino Unido responsável pela atual campanha do movimento, denominada “Stand up to Hatred”.

1723: O CARNAVAL DOS IMIGRANTES


"E o entrudo, carnaval de rua
duzentos anos e a festa continua"
Samba-Enredo da Imperatriz Leopoldinense em 1993

Começamos a nossa cronologia carnavalesca em homenagem aos grandes madeirenses e açorianos, pois foi por imigrantes portugueses das ilhas da Madeira e dos Açores que o carnaval chegou no Rio de Janeiro, no ano de 1723.

Com o nome de Entrudo, que vem do latim "introitus" e significa "entrada" - deixando às claras que a brincadeira era livre para quem quer que fosse, qualquer "entrão" podia participar das brincadeiras ao ar livre, e no amontoar das multidões, estas baseavam-se principalmente em atirar objetos em outras pessoas. Daí formaram-se as "batalhas" de mela-mela de farinha, de água com limões de cheiro, e que foram substituídos ao longo do tempo pelos tradicionais confetes e serpentinas. Os participantes usavam também máscaras ou pintavam o rosto com o intuito de se disfarçar, e dos disfarces nasceram as sátiras e protestos contra o governo, pois os mascarados, adequadamente disfarçados, caprichavam nos detalhes contra a ordem vigente da época. Desde esta época ficou claro que tal festejo não era bem visto pelas elites, que eram contra os protestos e consideravam aquilo uma "brincadeira" de mau-gosto e representada pelos desvalidos e ignorantes."
Crianças fantasiadas no carnaval de 1928: o Entrudo atravessou os séculos. Foto de Cláudio Góes (Acervo pessoal).
O entrudo deu origem a várias outras manifestações carnavalescas brasileiras; no Rio, surgiram os blocos de rua e na Bahia, os trios elétricos e as micaretas, que são realizadas no decorrer do ano.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

no princípio era o texto III (será?)




31. A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera, Trad.Teresa B. Carvalho da Fonseca:
O eterno retorno é uma idéia misteriosa, e Nietzsche, com essa idéia, colocou muitos filósofos em dificuldade: pensar que um dia tudo vai se repetir tal como foi vivido e que essa repetição ainda vai se repetir indefinidamente ? O que significa esse mito insensato ?

32. Admirável Mundo Novo, Aldous Huxley, Trad.Felisberto Albuquerque:
Um edifício cinzento e atarracado, de apenas trinta e quatro andares, tendo por cima da entrada principal as palavras: CENTRO DE INCUBAÇÃO E DE CONDICIONAMENTO DE LONDRES-CENTRAL e, num escudo, a divisa do Estado Mundial: COMUNIDADE, IDENTIDADE, ESTABILIDADE.

33. O Feitiço da Ilha do Pavão, João Ubaldo Ribeiro:
De noite, se os ventos invernais estão açulando as ondas, as estrelas se extinguem, a Lua deixa de existir e o horizonte se encafua para sempre no ventre do negrume, as escarpas da ilha do Pavão por vezes assomam à proa das embarcações como uma aparição formidável, da qual não se conhece navegante que não haja fugido, dela passando a abrigar a mais acovardada das memórias.


34. O Tocador de Piano, Anthony Burgess, T. Celso Nogueira:
Posso ser vista em qualquer tarde dos meses de verão, sentada sob as castanheiras numa das mesas da praça, tomando sorvete de baunilha regado com um tico de uísque. As mesas ocupam a praça, e se você é novo no lugar só consegue descobrir a que café uma mesa pertence sentando e esperando.


35. O Circo da Ambição, John Taylor, Trad. Maristela Marques Ribeiro:
No verão de 1980, o Reverendo Jerry Fallwell pôde finalmente sentir-se em casa. Durante a semana, seu jato particular havia coberto nada menos que cinco mil milhas, enquanto ele cruzava o país fazendo palestras, partcipando em comícios, comparecendo a reuniões de conselhos, dirigindo cultos e dando entrevistas e mais entrevistas.


36. Rumo à Estação Finlândia, Edmund Wilson, Trad.Paulo Henriques Britto.
Num dia de janeiro de 1824, um jovem professor francês chamado Jules Michelet, que ensinava filosofia e história, encontrou o nome de Giovanni Vico numa nota do tradutor do livro que estava lendo. A referência a Vico interessou-o tanto que começou a estudar italiano imediatamente.

37. A Interpretação dos Sonhos, Sigmund Freud, Trad. Vera Ribeiro:
Nas páginas que se seguem, apresentarei provas de que existe uma técnica psicológica que torna possível interpretar os sonhos, e que, quando este procedimento é empregado, todo sonho se revela como uma estrutura psíquica que tem um sentido e pode ser inserida num ponto designável nas atividades mentaia da vida de vigília.

38. O Bispo Negro, Alexandre Herculano:
Houve tempo em que a velha catedral conimbricense, hoje abandonada de seus bispos, era formosa; houve tempo em que essas pedras, ora tisnadas pelos anos, eram ainda pálidas, como as margens areentas do Mondego. Então, o luar, batendo nos lanços dos seus muros, dava um reflexo de luz suavíssima, mais rica de saudade que os próprios raios daquele planeta guardador dos segredos de tantas almas, que crêem existir nele, e só nele, uma inteligência que as perceba. Então aquelas ameias e torres não haviam sido tocadas das mãos de homens, desde que os seus edificadores as tinham colocado sobre as alturas; e, todavia, já então ninguém sabia se esses edificadores eram da nobre raça goda, se da dos nobres conquistadores árabes. Mas, quer filha dos valentes do Norte, quer dos pugnacíssimos sarracenos, ela era formosa, na sua singela grandeza, entre as outras sés das Espanhas. Aí sucedeu o que ora ouvireis contar.

39. Os Retirantes, José do Patrocínio:
Tinha acabado a missa conventual e só à tarde sairia a procissão de prece: a imagem da Senhora da Piedade no seu andor armado de damasco e festões de flores, carregado por virgens; o Cristo de lividez poética na sua cruz negra e desornada.

40. Lord Jim, Joseph Conrad, Trad. Mário Quintana:
Tinha ele 6 pés de altura, menos 1 ou 2 polegadas, talvez, forte, espadaúdo, avança direito para a gente, um pouco curvado, olhar fixo, a cabeça para a frente, como um touro quando vai investir. Sua voz era profunda e forte, e sua atitude traía uma espécie de displicente altivez, que não tinha no entanto nada de agressivo.

sábado, 24 de janeiro de 2009

olhai os lírios do campo!



"Ninguém pode ser tão feliz sem ser punido"


Por Greta Garbo, uma emissária soviética em "Ninotchka", filme de 1939.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

o subconsciente em grande estilo














"EU FAÇO FOTOGRAFIAS, COLORIDAS À MÃO, DO SUBCONSCIENTE"

Por Salvador Dalí, cujo aniversário de morte completa 20 anos nesta sexta-feira.



















quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

little dolls


Lembra-me perfeitamente como se fosse ontem. Os rapazes jogavam à bola e ao pião e brincavam com carros. As meninas brincavam com casinhas e com bonecas. E todas as meninas lá da rua tinham uma boneca preta. Era tão giro ter uma pretinha! E depois aconteceu o 25 de Abril e as bonecas pretas levaram todas sumiço porque eram sinónimo de racismo. Mas isso foi no tempo antes de Barack H. Obama ser Presidente.


Por José Simões, publicado no "DER TERRORIST" (http://derterrorist.blogs.sapo.pt/) nesta quinta-feira.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

contando folias


Há exatos 30 dias do início do carnaval, que tal falarmos da festa mais popular, dinâmica e controversa do planeta? Espero que nas próximas semanas vocês se deliciem com histórias, momentos e flagrantes do carnaval de todas as partes e épocas do mundo, tudo isto contado aqui neste cantinho!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

MELHOR DE QUATRO EM SIDNEY
















Sempre gosto de escrever sobre um evento esportivo com este já iniciado, pra pegar o tema no auge da temperatura, e mesmo assim não tenho receio de acabar citando um nome que já tenha sido pego de surpresa pelo caminho. E neste ínterim, aposto as minhas duas raquetes e outras tantas bolinhas amarelas presentes aqui no armário que nenhum dos quatro acima sairá na primeira rodada do Aberto da Austrália, o primeiro Grand Slam do ano. E tal aposta se dá porque nunca percebi anteriormente um favoritismo tão exagerado ao reunirmos os primeiros colocados do ranking mundial.

O primeiro da lista, Rafael Nadal, está com sede de vitórias após a derrota para Murray na Copa do Mundo; o número dois, Andy Murray, desponta como o novo queridinho das quadras, após grandes vitórias sobre Roger Federer; este último dispensa apresentações, e o russo Nikolay Davidenko vem mostrando que possui talento de sobre para abocanhar o primeiro troféu de peso do ano.

Sendo assim, fiquem de olhos nos quatro nomes, pois duvido e muito que algo em Sidney - e também em Paris, em Londres e em Long Island, para extrapolar de vez - chegue às mãos de qualquer outro fora o quarteto fantástico da bolinha na atualidade.

sábado, 17 de janeiro de 2009

SIR hércules está de volta!



O ícone pop britânico volta ao Brasil após 13 anos, com a turnê "Rocket Man". Clássicos sucessos como "Your Song" e "Tiny Dancer" não faltarão em seu repertório. Em São Paulo a apresentação acontece no sábado, dia 17 de janeiro, na Arena Skol Anhembi, e no dia 19, no Rio, na Praça da Apoteose.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

no princípio era o texto - segunda parte


11. Grande Sertão Veredas, João Guimarães Rosa:
Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. Alvejei mira em árvores no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia isso faço, gosto; desde mal em minha mocidade. Daí vieram me chamar. Causa dum bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser - se viu - ; e com máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar. Mesmo que, por defeito que nasceu, arrebitado de beiços, esse figurava rindo feito pessoa. Cara de gente, cara de cão: determinaram - era o demo.

12. O Falcão Maltês, Dashiel Hammet, Trad. Cândida Villalva:
O maxilar de Samuel Spade era longo e ossudo, seu queixo um V" proeminente sob o V mais flexível da boca. As narinas curvavam-se para trás, fazendo um outro V menor. Os olhos amarelo-pardos eram horizontais. O motivo V era retomado de novo por espessas sobrancelhas saindo de duas rugas gêmeas sobre o nariz adunco e erguendo-se na parte externa, , e o cabelo castanho claro descia das têmporas altas e achatadas, em ponta sobre a testa. Dava a impressão um tanto divertida de um demônio louro.

13. O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde, TRAD. Oscar Mendes:
O forte perfume das rosas inundava o estúdio, e quando uma ligeira brisa estival corria entre as árvores do jardim, trazia, pela porta aberta, o pesado armoa dos lilases e o perfume mais delicado das roseiras bravas em flor.

14. Reflexões Sobre o Racismo, Jean-Paul Sartre, Trad. J. Ginsburg:
Se um homem atribui, no todo ou em parte, as desgraças de seu país ou suas próprias desgraças à presença de elementos judeus na comunidade, se propõe remediar tal estado de coisas, privando os judeus de alguns de seus direitos ou afastando-os de certas funções econômicas e sociais ou expulsando-os do teritório, ou exterminando-os a todos, diz-se que alimenta opiniões anti-semitas.

15. O Caçador de Pipas, Khaled Hosseini, Trad. Maria Helena Rouanet:
EU ME TORNEI O QUE SOU HOJE aos doze anos, em um dia nublado e gélido do inverno de 1975. Lembro do momento exato em que isso aconteceu, quando estava agachado por detrás de uma parede de barro parcialmente desmoronada, espiando o beco que ficava perto do riacho congelado. Foi há muito tempo, mas descobri que não é verdade o que dizem a respeito do passado, essa história de que podemos enterrá-lo. Porque, de um jeito ou de outro, ele sempre consegue escapar. Olhando para trás, agora, percebo que passei os últimos vinte e seis anos da minha vida espiando aquele beco deserto.

16. Alma Encantadora das Ruas, João do Rio:
Eu amo a rua. Esse sentimento de natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos sentimos parecidos e iguais; nas cidades, nas aldeias, nos povoados, não porque soframos, com a dor e os desprazeres, a lei e a polícia, mas porque nos une, nivela e agremia o amor da rua. É este mesmo o sentimento imperturbável e indissolúvel, o único que, como a própria vida, resiste às idades e às épocas. Tudo se transforma, tudo varia – o amor, o ódio, o egoísmo. Hoje é mais amargo o riso, mais dolorosa a ironia, Os séculos passam, deslizam, levando as coisas fúteis e os acontecimentos notáveis. Só persiste e fica, legado das gerações cada vez maior, o amor da rua.

17. Desempenho, Rubem Fonseca:
Consigo agarrar Rubão, encurralando-o de encontro às cordas. O filho da puta tem base, agarra-se comigo, encosta o rosto no meu para impedir que eu dê cabeçadas nele.


18. Tiro no coração, Mikal Gilmore, Trad. Marcelo Levy.
Um a um eu os vi morrer, todos eles. Primeiro meu pai. Depois meus irmãos Gaylen e Gary. Finalmente minha mãe, uma mulher amarga e devastada. No fim, havia apenas eu, o caçula, e meu irmão Frank, o primogênito. Então, um dia, quando a dor da história da família se tornou intensa demais para suportar, Frank simplesmente mergulhou em um mundo de sombras, permanecendo inescrutável, por mais que eu o sondasse. Ou talvez eu não tenha sondado o suficiente.


19. Crítica da Razão Pura, Imannuel Kant, Trad.Valério Holden:
Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, por­que, com efeito, como haveria de exercitar-se a fa­culdade de se conhecer, se não fosse pelos objetos que, excitando os nossos sentidos, de uma parte, produzem por si mesmos representações, e de ou­tra parte, impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los, e deste modo à elaboração da matéria informe das impressões sensíveis para esse conhecimento das coisas que se denomina experiência?


20. Notícias de Um Sequestro, Gabriel G. Marquez, Trad. Eric Nepomuceno.
Antes de entrar no automóvel olhou por cima do ombro para ter certeza de que ninguém a espreitava. Eram sete e cinco da noite em Bogotá. Havia escurecido uma hora antes, o Parque Nacional estava mal-iluminado e as árvores sem folhas tinham um perfil fantasmagórico contra o céu turvo, mas não havia à vista nada a temer.

DIAS DE CAÇA


Ocorre com um governo em geral o mesmo que ocorre com a vida animal: cada passo na vida é um passo para a morte.

Diderot, em "Verbetes Políticos da Enciclopédia Unesp."

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

29. viva lady day!!!!!!!!



"Toda vez que faço um show me deparo com tudo o que já foi escrito sobre mim. Tenho de lutar durante todo o espetáculo para para fazer com que as pessoas me ouçam e acreditem em mim novamente."


Por Billie Holiday, em depoimento três meses antes de sua morte, cujo aniversário completa 50 anos em 2009.

domingo, 11 de janeiro de 2009

NO PRINCÍPIO ERA O TEXTO...



Já que por aqui o verbo plagiar está em voga, nada mais apropriado do que utilizarmos uma paráfrase para ilustrar o título de um post; esta, em questão, está na Bíblia, objeto parafraseado. Será que Ele irá protestar ?? (:

Brincadeiras à parte, tal postagem surge pra abrir uma série sobre aberturas de livros, tema que há algum tempo vem me apetecendo. Sabem daquela história que muita gente abandonou uma leitura por ter detestado as primeiras palavras de um livro, que fossem estas um parágrafo inteiro ou apenas as primeiras linhas? Ou o contrário: muita gente embalou nas páginas de uma obra graças à qualidade das primeiras palavras?
Que estejamos abertos às listas de dez obras em cada postagem, e que as aberturas citadas despertem em todos vocês as mais complexas sensações. Preparem-se para os mais diferentes romances.
E digam: de qual abertura vocês mais gostaram??


1. Anna Karênina, Leon Tolstói,Tradução de João Gaspar Simões:
Todas as famílias felizes se parecem entre si. As infelizes são infelizes cada uma à sua maneira.

2. A Sangue Frio, Truman Capote, Trad. Sergio Flaksman:
A cidade de Holcomb fica nas planícies do oeste do Kansas, lá onde cresce o trigo, uma área isolada que mesmo os demais habitantes do Kansas consideram distante. A uns 110 quilômetros da divisa entre o Kansas e o Colorado, a paisagem, com seu céu muito azul e o límpido ar do deserto, tem uma aparência que está mais para a do Velho Oeste do que para a do Meio-Oeste. O sotaque local traz as farpas da pronúncia cortante da pradaria, a nasalidade dos caubóis, e os homens, muitos deles, usam calças apertadas, chapéus Stetson e botas de salto alto com bicos pontudos. A terra é plana, e os panoramas são incrivelmente extensos; cavalos, rebanhos de gado e um aglomerado branco de silos de cereais que se elevam com a graça de templos gregos são visíveis muito tempo antes que o viajante os alcance.

3.Política, Aristóteles, Tradução de Mário Gama Kury:
Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política.

4. A granja da Abadia, Arthur Conan Doyle, Trad.Maria Luiza Borges:
Numa fria e nevoenta manhã de inverno, em 97, acordei com uma batida no ombro. Era Holmes. A vela que ele segurava brilhava no rosto ansioso e fiquei imediatamente sabendo que acontecera alguma coisa. –Venha, Watson, venha! O jogo começou! Nem uma palavra! Vista-se e venha!

5. Os Sertões, Euclides da Cunha:
Planalto Central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas. Mas ao derivar para as terras setentrionais diminui gradualmente de altitude, ao mesmo tempo que descamba para a costa oriental em andares, ou repetidos socalcos, que o despem da primitiva grandeza afastando-o consideravelmente para o interior.

6. Viagens de Gulliver, Jonathan Swift, Trad. Otávio Mendes Cajado:
Dá o autor a notícia de si mesmo e de sua família. Os seus primeiros induzimentos a viajar. Naufraga, nada para salvar a vida, chega são e salvo à praia no país de Lilipute. É aprisionado e conduzido pelo país adentro.


7. O Crime do Padre Amaro, Eça de Queiróz:
Foi no domingo de Páscoa que se soube em Leiria, que o pároco da Sé, José Miguéis, tinha morrido de madrugada com uma apoplexia. O pároco era um homem sangüíneo e nutrido, que passava entre o clero diocesano pelo comilão dos comilões. Contavam-se histórias singulares da sua voracidade. O Carlos da Botica - que o detestava - costumava dizer, sempre que o via sair depois da sesta, com a face afogueada de sangue, muito enfartado: - Lá vai a jibóia esmoer. Um dia estoura!

8. Na Praia, Ian McEwan, 2007, Trad. Bernardo Carvalho:
Eram jovens, educados e ambos virgens nessa noite, sua noite de núpcias, e viviam num tempo em que conversar sobre as dificuldades sexuais era completamente impossível. Mas nunca é fácil. Estavam sentados para jantar numa saleta do primeiro andar de uma estalagem georgiana. No quarto adjacente, visível através da porta aberta, ficava uma cama de dossel, mais para estreita, cuja colcha era de um branco puro e espantosamente liso, como se não tivesse sido esticada por mãos humanas.

9. O Que é Isso, Companheiro ?, Fernando Gabeira:
Irarrazabal chama-se a rua por onde caminhávamos em setembro. É um nome inesquecível porque jamais conseguimos pronunciá-lo corretamente em espanhol e porque foi ali, pela primeira vez, que vimos passar um caminhão cheio de cadáveres. Era uma tarde de setembro de 1973, em Santiago do Chile, perto da Praça Nunoa, a apenas alguns minutos do toque de recolher.

10. Personas Sexuais, Camille Paglia, Trad. Marcos Santarrita:
No princípio era a natureza. Pano de fundo a partir do qual e contra o qual se formaram nossas idéias a respeito de Deus, a natureza continua sendo o supremo problema moral. Não podemos esperar entender o sexo e as identidades sexuais humanas enquanto não esclarecermos nosa atitude em relação a ela. O sexo é um subconjunto da natureza. Sexo é o natural do homem.

sábado, 10 de janeiro de 2009

arrochoTERAPIA



"Quando você está tomando um ARROCHO no pescoço você se desapega de tudo, esquece dos problemas, das contas a pagar. O Jiu-Jitsu é uma ótima terapia, e serve para qualquer um."


Por Rodrigo "Minotauro" Nogueira, lutador brasileiro de vale-tudo e faixa-preta de Jiu-Jitsu, em entrevista à Gracie Magazine de dezembro.




sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

10. RAN e o espaço-fora-da-tela

Akira Kurosawa, 1985

Buscar inspiração na obra “Rei Lear”, de Shakespeare, nunca se mostrou tarefa das mais fáceis. E muito menos simples deve ser fazer desta inspiração uma livre adaptação para o cinema. Mas é isto o que acontece em RAN, cuja tradução significa “caos”, onde o excepcional diretor japonês Akira Kurosawa nos mostra uma pessimista visão de mundo sobre as relações de poder, aqui sob a ordem da tradição oriental.

Vários filmes trataram da transição de poder em várias situações, mas ninguém como Kurosawa enxergou o caos e a desordem de maneira mais apropriada ao tratar do tema. As célebres cenas de batalha, envoltas em uma estarrecedora fotografia, e os longos e questionamentos sobre ética envolvem uma intrigante, violenta e excitante disputa pelo poder poucas vezes vista – apenas Copolla em “O Poderoso Chefão o fez com tamanha maestria – na sétima arte.

Quando estudei cinema, uma das técnicas da linguagem cinematográfica que mais me impressionaram foi a do “espaço-fora-da tela”; simular algo que poderia vir a acontecer, com os elementos entrando gradativamente na tela, é mesmo fascinante. O conceito de espaço-fora-da-tela propõe a idéia de um mundo em expansão, com a movimentação dos elementos indo e vindo no espaço da tela criando novas cenas.
Ao romper com as limitações do teatro filmado, no qual toda a ação se desenvolve e se esgota dentro do quadro, no espaço-fora-da-tela as imagens em "off" entram em cena - quase sempre lateralmente - e simulam as possíveis novas imagens que virão a surgir.
Podemos ver isto sendo muito bem utilizado em "Janela Indiscreta", de Hitchcock, e também em "Ran", que tive acesso ainda criança, no qual as cores e excesso de guerreiros e cavalos sempre me fizeram buscar uma nova nova interpretação da obra. No vídeo abaixo temos um bom exemplo de como podemos analisar tal conceito na prática.

Ran foi realizado quando o diretor estava com 75 anos. À época, com sérios problemas de visão, Kurosawa enxergou muito além da maioria. Uma maneira nada caótica de ver o mundo.




quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

memória em verde e rosa

(1924 - 2009)

Outro dia eu dialogava aqui com a Aline Said - outra ilustre escriba deste espaço - sobre a quantidade de ícones do samba e do carnaval carioca que haviam nos deixado em 2008. E pelo visto, 209 começa do mesmo jeito. Histórico e clássico diretor de harmonia do carnaval carioca, Olivério Ferreira, o Xangô da Mangueira, morreu aos 85 anos nesta quinta-feira.

Intérprete e compositor, Xangô nasceu no Estácio e em 1939 foi para a Mangueira, escola onde concretizou sua carreira. Até 1951 foi o puxador oficial dos sambas-enredo da escola, e em seguida assumiu o posto de diretor de harmonia da agremiação verde e rosa. Sua obra musical reúne mais de 150 composições.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

realidades dantescas



Imaginar o tombadilho de uma embarcação como o único sonho possível foi e é e será uma imagem a me marcar por toda a vida. O épico de Castro Alves, "Navio Negreiro", data de 1868, ano em que o poeta baiano completou 21 anos - só lembro de algo tão magnífico e precoce ao mesmo tempo quando falo de Noel Rosa, que morreu aos 24 com mais de duzentas composições musicais ou de Mozart, que dispensa apresentações).
(...)Era um sonho dantesco... o tombadilho, Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar. Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite, Horrendos a dançar...


"Navio Negreiro" representa em sua melhor forma todo o sofrimento pelo qual os escravos passavam nos porões das caravelas durante a travessia pelo Atlântico rumo ao Brasil. Estar em um tombadilho, local que era tido como o máximo de liberdade naquele momento, foi visto como um libelo contra a opressão aos escravos que se acumulavam nos porões.


Tal como a água, seja a do mar, a qual os escravos sonhavam em vislumbrar, ou a potável, a que usamos diariamente para saciar a sede - e que para alguns ainda é de difícil acesso, - sempre fui contra a idéia de seletividade, do isolamento e de segregação. Desde mais jovem tenho em mente que todos somos capazes de participar de tudo e, consequentemente, aprender sobre todas as coisas, e que a distinção sempre gera amarras, bloqueios e incorreções naquilo que poderíamos chamar de real, autêntico, legítimo.

Venho tratar desse assunto porque aqui acabo de desconsiderar aquilo em que acredito e aplico o caminho torto neste nosso outrora democrático espaço. Muitos de vocês já devem ter percebido que os comentários aqui feitos só serão exibidos mediante aprovação dos que detém o direito de postagem. Ainda que eu discorde de tal medida, pois o nosso blog existe desde meados de 2007 e sempre pregamos pela liberdade de expressão, achei por bem tal medida, pelo menos por enquanto, já que alguns resolveram fazer do espaço um panfleto em favor de seus próprios egos e personalidades.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

sábado, 3 de janeiro de 2009

poetas no caminho



Por Adriana Lisboa


No meio do caminho tinha uma pedra porosa. Dava para ver seus grãos. Chegando mais perto, raios finíssimos de sol atravessavam a pedra. Mais perto ainda, um turbilhão, um pequeno redemoinho (uma galáxia minúscula) se movia lá dentro, no leve corpo da pedra.A pedra, no meio do caminho, era permeável: se chovesse, ficava encharcada. O vento a enchia de poeira, pólen e cadáveres de insetos. O calor do meio-dia a deixava com sono e sede. A neblina que às vezes baixava no fim da tarde invadia a pedra, no seu corpo as nuvens trafegavam sem pressa. Os sons passavam por ela e iam se extinguir em algum lugar desconhecido. Na pequena galáxia dentro da pedra havia pequenos planetas orbitando em torno de sóis de diamante.


"Densidade". In: Caligrafias; Rio de Janeiro: Rocco, 2004, p. 79)




In the middle of the road there was a porous stone. Its grains were visible. On closer examination, the thinnest of sunrays pierced through the stone. On even closer examination, a maelstorm, a small whirlwind (a minute galaxy) gyrated within, inside the featherlight body of the stone.The stone, in the middle of the road, was permeable: if rain fell, it would get drenched. The wind would fill it with dust, pollen, and the corpses of insects. The mid-day heat would make it sleepy and thirsty. The fog that at times descended in the late afternoon would invade the stone; within its body the clouds meandered about without haste. Sounds would pass through it and go on to fade out in some unknown place. In the tiny galaxy within the stone there were tiny planets orbiting diamond suns.


(Density, translated by Sally Green Haddad) .

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

imprudentes generalizações



É sempre bom começar o ano recebendo críticas; estas costumam nos dar a medida exata das situações, calçam os nossos pés nos locais adequados e servem para levar as águas mais bravias de volta ao leito.

E como assíduo leitor do “caderno de campo”, da Isabel Victor, fica mais fácil analisar os ataques de início de ano, cuja semelhança aparece em outra postagem (http://umacapitalentrerioemanaus.blogspot.com/2008/12/feliz-ano-novo.html); ainda que esta a ninguém interesse, pois a maioria só resolveu dar as caras por aqui após a postagem de 31 de dezembro; ou seja, é possível que os quase dois anos de possíveis acertos passem batidos aos olhos mais atentos aos erros de minha autoria.

Outra vitória: graças à Isabel, acabei conhecendo o mais que ilustre http://newcitadel.blogspot.com/, da M., que acabou me levando à “dupla leviandade”, já que escrevi de maneira equivocada o “post 333” sem mencionar as duas, o que explicaria o duplo erro.

E NÃO IMAGINO QUE estar debaixo da cama em primeiro de janeiro de 2009, como o devem estar fazendo boa parte dos habitantes próximos à região da faixa de Gaza, seja algo louvável, ainda mais pela sorte que tive por acabar tendo contato com os blogs dos ilustres comentaristas que por aqui estiveram graças ao post que também por aqui gerou problemas.

E apesar do meu erro, imagino que o colega cujo codinome é “exterminador” possua em mãos o estatuto de funcionamento mundial dos blogs, dada a certeza dele em tomar medidas drásticas contra a minha pessoa.

Mas voltando ao 333”, já li por aí que toda generalização, em sua essência, me parece inconstante, imprudente, inconsiderada.
E é possível que o mesmo conceito se aplique às teorizações. Está na natureza da teoria, por ela própria, não passar de um reducionismo. Se vou teorizar sobre um assunto, isto quer dizer, via de regra, que pretendo vê-lo sob um ponto de vista determinado.

Se, por exemplo, eu disser que a relação entre os periódicos na blogosfera é promíscua, eu estou generalizando, porque eu poderia citar uma série de espaços muito competentes, como o “caderno de campo”, (http://isabelvictor150.blogspot.com/) o “der terrorist” (derterrorist.blogs.sapo.pt/) e o “café e papo” (http://cafeepapo.blogspot.com/) mas, infelizmente, estas seriam exceções que só confirmariam a regra que afirmaria que: a maioria dos blogs é de péssima qualidade, abusa de falta de parcialidade em suas digressões e presta um desserviço aos leitores rede afora.

Concluindo de acordo com o parágrafo anterior, seria possível que eu estivesse usado de plágio intencionalmente no último post do ano que passou, mas não seria possível, ainda que muitos não a enxerguem, que o nome da M. não ter entrado como autora tivesse sido causado por um erro? Será que existiria uma abissal diferença entre plagiar e errar, ainda que isto não me redima do desacerto que cometi?

Mas talvez seja válida outra lembrança. Como plagiador que sou, como afirmam alguns (ou muitos, já que tudo depende do ponto de vista), teria sido mais fácil que eu tivesse lançado mão do plágio em dias anteriores, já que pelo que percebo, no periódico onde escrevo existem 334 posts desde o iníco de 2008 até o presente momento.
De repente, alguns poderiam até explicar melhor do que eu poderia fazer o porquê de nas outras 333 postagens de 2008 - e outras tantas em 2007- não ter aparecido um plagiozinho sequer, e logo nesta última do ano o exemplo citado serviu para me rotular como tal.
Porque eu não teria feito isto antes, já que entre os citados no “uma capital...” estão Albert Camus, Machado de Assis, Franz Kafka, Adélia Prado, Martin Scorsese, entre outros?

Na verdade, em vez de ter gasto tantas palavras, deveria eu ter usado recurso mais sucinto, como uma explicação mais simples, sem delongas com exposição de motivos. Confesso que seria mais feliz se tivesse escrito: “cometi um erro, um equívoco, um engano ao usar o excerto de um texto e não citar o autor”. SIMPLES ASSIM !!!!!!!!
(:

Abraços a todos.
Pablo Lima.