terça-feira, 30 de setembro de 2008

querelas QUASE sempre certas


Camus, sem dúvida, permanecerá como o mais simpático dos dois. Porque morreu jovem, e tão subitamente, ele nunca ficará velho aos nossos olhos, enquanto que podemos visualizar Sartre se tornando um idoso desgastado, parecendo sobreviver a si mesmo, deixando para trás querelas inverossímeis sobre se suas últimas palavras são realmente sua própria voz.

Embora o sucesso tenha aparentemente subido à cabeça de Camus, e o peso e as feridas das discussões o tenham deixado amargurado, ele foi sempre uma pessoa visivelmente sentimental, sofredora e vulnerável, e mesmo seus poderes literários pareciam mais suados e humanos do que os incríveis dotes intelectuais de Sartre.

E enquanto o Sartre político foi um fanático, um pregador da servidão voluntária, Camus sofreu do mal de estar quase sempre certo.


Sartre´s Last Words, Ronald Aronson, 2004.

NUNCA DUVIDE DE MACHADO



"Creia em si, mas não duvide sempre dos outros"

Por Joaquim Maria Machado de Assis, cujo aniversário de morte completou 100 anos nesta segunda-feira.

domingo, 28 de setembro de 2008

19. dura caminhada, pela vida afora

Drão o amor da gente é como um grão/ Uma semente de ilusão / Tem que morrer pra germinar/ plantar nalgum lugar/ Ressuscitar no chão/ nossa semeadura/ Quem poderá fazer aquele amor morrer/Nossa caminhadura/ Dura caminhada pela estrada escura/ Drão não pense na separação/ Não despedace o coração/O verdadeiro amor é vão/ estende-se infinito/ Imenso monolito, nossa arquitetura/Quem poderá fazer aquele amor morrer/Nossa caminha dura/Cama de tatame pela vida afora/Drão os meninos são todos sãos/ Os pecados são todos meus/ Deus sabe a minha confissão/ não há o que perdoar/Por isso mesmo é que há/de haver mais compaixão/ Quem poderá fazer aquele amor morrer/ Se o amor é como um grão/ Morre e nasce trigo, vive e morre pão/Drão

sábado, 27 de setembro de 2008

GONZO para maiores



















Caso você goste de Jornalismo, já deve ter desistido de ler as matérias dos principais periódicos. Ou de ler sobre o assunto. Por agora não encontramos notícias com vitalidade; falta viço, rebeldia, destreza, cinismo. No Jornalismo atual não há idiossincrasias suficientes para que o gênero se sustente como algo de valor.

Mas enfim, as adjetivações se dão porque quero falar do Jornalismo GONZO. Versão mais radical do New Journalism, o Gonzo foi criado por Hunter Thompson em 1971, à época um brilhante repórter da Rolling Stone - pra quem não conhece a Rolling, ja postei sobre ela em outra ocasião.

Segundo Thompson, o a reportagem só poderia render caso o entrevistado fosse provocado. Para ele não havia escrúpulos ou limites na relação com o entrevistado, tudo em nome do envolvimento pessoal com a ação que estava descrevendo; sem medir as consequências, fossem elas entrar em territórios proibidos ou xingar/agredir as pessoas que participavam da entrevista. Ou seja, no Jornalismo Gonzo o que importa é o envolvimento profundo do autor no processo de elaboração da história; ou seja, o autor é o próprio personagem.

Mas é óbvio que Thompson teve sérios problemas com a proposta; caso tudo isto não fosse problemático, não teria sido GONZO, e muito menos este personagem não teria se chamado Hunter S. Thompson. Como exemplo, ele levou uma tremenda surra dos motoqueiros do Hell´s Angels após uma série de insultos. E claro que tudo isto regado a bebedeiras, drogas e muito, muito sarcasmo. Uma de suas frases mais célebres era: "não me importa a ofensa, e sim a reação do entrevistado".

Como a vida quase sempre acompanha os descaminhos da arte com a qual lidamos diariamente, Hunter Thompson se suicidou com um tiro de espingarda na cabeça em 20 de fevereiro de 2005.


quinta-feira, 25 de setembro de 2008

e quem quiser invente outro lugar...

Como há muito a nossa ilustre quitanda não trata das também não menos interessantes listinhas de preferência que por aqui quase sempre aparecem, lanço mão da literatura para viajar por locais conhecidos apenas nas mentes dos nossos mais queridos escritores.
Para tanto, percorremos os lugares mais importantes presentes nos livros mundo afora e, de Platão a Manuel Bandeira, ficamos com os cinco mais ilustres "mundos" que existem apenas na literatura.

5- Atlântida

Conhecida por muitos como "o continente perdido", a cidade de Atlântida veio ao mundo pelas misteriosas palavras do filósofo Platão, a nada menos do que quatro séculos antes de Cristo. Ele escreveu a respeito dessa terra submersa em dois de seus "diálogos" – Timeus e Critias.
Segundo o discípulo de Sócrates, o continente ficava no Oceano Atlântico, próximo ao Estreito de Gibraltar. Em Atlântida viviam seres gigantescos, e a poderosa civilização dos atlantes teria sido destruída pela ira dos deuses, em consequência de sua corrupção. Lá vivia uma jovem órfã de nome Clito, cuja beleza encantou Poseidon. Da relação entre Poseidon e Clito nasceram cinco pares de gêmeos, ao qual o mais velho o deus dos mares batizou de Atlas.

4- País das Maravilhas

Num dos maiores clássicos infantis em todos os tempos reside a doce Alice, e tudo vindo da mente do britânico Lewis Carrol. Escrito em 1862, "Alice nos País das Maravilhas" conta a história de uma menina chamada Alice, que cai em uma toca de coelho e vai parar num lugar fantástico denominado País das Maravilhas, povoado por criaturas também imaginárias. Entre os seres mais conhecidos do local estão o Coelho Branco, o Chapeleiro Louco e a Rainha de Copas. "Alice..." foi levado ao cinema como um filme de animação, produzido pelos estúdios Disney em 1951.

3- Shangri-la
Shangri-Lá, Xangri-lá ou Shangrilá, como queiram, é uma localidade presente em "Horizonte Perdido", do escritor inglês James Hilton, obra escrita em 1925. Na novela, Shangri-la aparece como uma comunidade encravada nas montanhas do Himalaia, no Tibete, onde os habitantes, sem exceção, gozam de extrema saúde, longevidade, paz e felicidade.
Façamos então do "Uma capital" a nossa Shangri-la!

2 - Macondo

Quem não conhece as peripécias e os dilemas do coronel Aureliano Buendía, celebérrimo protagonista de "Cem Anos de Solidão", quase um ato autobiográfico por parte do colombiano Gabriel Garcia Marquez.
A obra conta a saga dos Buendía e a trama se passa numa aldeia fictícia e remota chamada Macondo. A aldeia foi fundada pela família Buendía, cuja primeira geração foi formada por José Arcadio Buendía e Úrsula Iguarán. Erguida em meio a charcos e pantanais, Macondo nos traz um inventário de misérias, superstições, enigmas, maravilhas e esquecimentos. O passeio por Macondo é roteiro obrigatório para os amantes da literatura.

1. Pasárgada

O nosso périplo não poderia ter escolhido melhor lugar para fixar parada final ! Em "Vou-me embora para Pasárgada", o pernambucano Manuel Bandeira apresenta as inúmeras delícias de um oásis, - algo como o nosso espaço aqui - onde as mulheres mais belas do planeta estão dispostas a nos oferecer prazeres infinitos.

Vale lembrar que a Pasárgada "real", ainda que não tão ideal assim, foi uma cidade da antiga Pérsia, que serviu de inspiração ao escritor brasileiro quando de uma leitura de Xenofonte, onde a cidade fora citada. Ou para outros, da geração Pós-Bandeira (vide imagem ao lado), que afirmam que os baianos já desfrutam das melhores mulheres do mundo há tempos...

verdade verdadeira (para valéria martins)

Composición VII, Vassily Kandinsky, 1923.
Nós, mentirosos, esperamos servir à verdade. Receio que a palavra pretensiosa para isso seja "arte".
Por Orson Welles no filme "Verdades e Mentiras"

sábado, 20 de setembro de 2008

UM CINEASTA CHAMADO DESEJO


Há muito os filmes de Pedro Almodóvar me apetecem, e em todos eles o desejo feminino é o centro das atenções. Na verdade, vim aqui para falar de um filme especificamente, "Tudo sobre minha mãe", mas como os roteiros se completam, fica difícil alardear apenas uma obra. Desde o primeiro que vi, "Carne TRÊMULA", até a sua obra-prima, "Fale com Ela", Almodóvar continua apostando na complexidade da alma feminina com extrema destreza.


Mas "Tudo sobre minha mãe" explicita e enfatiza questões como o perdão, os relacionamentos entre pais e filhos e, sobretudo, os dilemas do universo feminino diante de assuntos delicados como aids, drogas, religião e prostituição.

Sobre a trama, a protagonista Manuela (a deslumbrante Cecília Roth) presencia a morte do filho à saída de um espetáculo que encena "Um Bonde Chamado Desejo", de Tennessee Williams. Tempos depois, ela vai a Barcelona rever o pai do filho morto e o encontra transformado em um travesti. Lá, Manuela conhece uma freira portadora do HIV e engravidada (?) pelo travesti pai de seu filho. Diante de toda essa melancolia, Almodóvar consegue encontrar ternura, humor e esperança em um mundo onde os desejos, da mesma forma que na obra de Tennessee Williams, priorizam o sensível, o passional e o vingativo.

afinidades percussivas













"Uma das minhas prioridades para o próximo ano é desfilar numa bateria de escola de samba."


Por Eduardo Paes, candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, em entrevista ao jornal O Globo na última quinta-feira, 18 de setembro de 2008.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

quatro frases e telas em DALÍ


"Faço fotografias, coloridas a mão, do subconsciente"

"Arte moderna é quando se resolve comprar um quadro para esconder uma parte da parede cuja pintura está descascando e, depois de examinar umas 50 obras, se chega à conclusão de que o melhor mesmo será deixar como está."
"A diferença entre as lembranças falsas e verdadeiras é a mesma das jóias: as falsas sempre aparentam ser as mais reais, as mais brilhantes."

"Eu vivo em permanente estado de ereção intelectual."

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

FUTURO à prova de choque

"Condicionamos as massas a odiar o campo", conclui o diretor. "Mas simultaneamente as condicionamos a apreciar todos os esportes campestres. Ao mesmo tempo, providenciamos que todos os esportes campestres determinem o uso de aparatos elaborados. Assim eles consomem produtos elaborados e também o transporte. Donde os choques elétricos"



Aldous Leonard Huxley (foto) , em sua obra futurista "ADMIRÁVEL MUNDO NOVO", publicada em 1932.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

NAS GARRAS da tortura e da felicidade


Fui à cidade comprar outro sobretudo! Jantei na casa de Burroughs e à noite tive uma conversa fantástica com Ginsberg, que revelou como são profundamente similares nossas visões de vida[...]
Entretanto, sua visão de vida é infinitamente mais complexa que a minha, talvez mais madura; para ele, a vida em seu melhor é comédia: pessoas correndo de um lado para outro, todos procurando amar uns aos outros, mas sendo tão torturados e infelizes em relação a isso que às vezes é engraçado de ver.
Minha visão destaca a necessidade urgente de um mergulho interior produtivo enquanto todo esse amor acontece, ou seja, as pessoas têm de trabalhar e viver enquanto amam.

Por Jack Kerouac, escrito numa sexta-feira, 5 de dezembro de 1947.

LITERATURA EM METAMORFOSE




"A língua alemã não vai além de 300 palavras e tudo o que não é literatura me aborrece. Odeio até mesmo as conversas sobre literatura"

Franz Kafka (1883-1924)

domingo, 14 de setembro de 2008

17. HIDE AND SEEK




O post número dezessete sobre vídeos musicais nos traz simplesmente o maior tenorista da atualidade! Com o sax tenor em punho, Joshua Redman encanta com os improvisos e os arranjos em "Hide and Seek", em imagens do Festival de Montreux. Seu estilo se apresenta tanto com influências do fusion criado nos anos 1980, quanto com traços do bebop, ao estilo do pai do movimento, Charlie Parker. A faixa está dividida em duas partes, e ambas nos deliciam em insuperável nível de excelência.


sábado, 13 de setembro de 2008

o som do texto


"Para mim, a escrita é uma operação musical: é a noção do ritmo, da eufonia. Não da eufonia no sentido das palavras bonitas, claro que não, mas da eufonia que sai de um desenho sintático (agora estamos falando do idioma) e que, ao ter eliminado tudo que era desnecessário, supérfluo, mostra a pura melodia."



Julio Cortázar (1914-1984)

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

TRIOS IRRESISTÍVEIS



Jules et Jim




Donga, Pixinguinha, João da Baiana


Zizinho, Leônidas, Didi
Three Dancers, Pablo Picasso



Os Impossíveis
The Wailers ( Bunny Wailer, Bob Marley e Peter Tosh)




John Coltrane, Cannonball Aderley, Miles Davis
Allen Ginsberg, Jack Kerouac, Gregory Corso