sexta-feira, 27 de novembro de 2009

quatro por quatro em LONDRES



Com a zebra solta em Londres - já que dos quatro melhores sobrou apenas o MITO FEDERER - falta pouco para vermos quem encerra o ano no topo, ou seja, com o troféu da Copa do Mundo.


TUDO nas mãos de

ROGER FEDERER, DEL POTRO,
DAVIDENKO E SODERLING






quinta-feira, 26 de novembro de 2009

era uma vez, na serra do IBIAPABA - PARTE 1


Trechos do depoimento de Nato Lima a Luís Nassif, da Folha de São Paulo, em fevereiro de 2004.
Ver íntegra do material em http://www.lainsignia.org/2004/febrero/cul_014.htm

O índio tabajara

Natalício Moreira Lima, o solista do duo Índios Tabajaras, mora em Nova York, perto do Central Park. Com seu irmão Antenor foi sucesso internacional nos anos 60 e 70. Em 1963, sua gravação da "Maria Elena" superou 1,5 milhão de discos vendidos, desbancando os Beatles na lista dos mais vendidos.
O depoimento a seguir foi concedido no dia 29 de janeiro, por telefone.


"Nasci na serra do Ibiapaba, entre Piauí e Ceará. Nesta serra, em 1929, existia Ubajara, cidade pequena, lugar famoso hoje. Naquela época não era. Um dia apareceu por lá uma tropa de militares, chefiada pelo tenente Hildebrando Moreira Lima.
Era muita gente e mudou nossa história. Não tínhamos cidade, éramos uma tribo mesmo, fomos criados na tribo Tabajara, morando em um terreno que não era nem Ceará nem Piauí, era uma área de litígio.


Nós fomos em três irmãos até lá, chegamos lá e começamos a comer fruta enorme, besta, que não vale nada, chamada Ingá, maior que feijão e contém espécie de algodão em volta, muito doce, muito bom.

Quando olhamos, vimos um violão, metemos a mão, fez aquele som, levamos um susto.
Levamos para tribo. Naquela época, os índios não deixavam ninguém chegar a menos de 600 metros dali. Vivíamos isolados. O violão causou transtorno na tribo. Havia outro som que escutávamos às seis da tarde, e não sabíamos o que era. Nós, pequenos, pensávamos que era violão. Era sino de cidade a uns 60 quilômetros dali, o sino de Ibiapina, assim chamada porque lá era terra completamente pelada.


Usavam muito medicina de mato. Eu gostava de comer barro e passava mal. Tinha vício daquilo e quase morri. Os curadores diziam que eu iria morrer daquilo, porque criava bicho na barriga.

O povo trouxe roupa, calças, vestidos para minha tia e minha mãe . E começamos a usar roupas. Quando fomos embora, roupa não era muito confortável. A do meu pai era muito grande.

Ficamos oito, nove dias em Fortaleza. E o camarada que nos trouxe de Sobral hospedou na casa dele. O pai ajudou a cavar um poço que chegou a dar água na casa dele.

Em casa, não havia nada que comer e nós começamos a querer plantar alguma coisa, igual o povo do sertão faz: limpa terra, bota fogo e começa a plantar feijão e milho. O foguinho apagou fácil. Fomos para casa descansar um pouco, foguinho começou a pegar fogo, pegou em toda a serra do Araripe. Às oito da noite muita gente veio ajudar para apagar o fogo. Uma meia-noite ainda era claro como o dia. Foi o fogo maior do sertão. Mais de quarenta dias, toda serra de um lado a outro.
Meu pai conseguiu escapar de lá e foi até onde nós estávamos. O coronel descobriu que fomos nós, levamos surra horrível.

Resolvemos sair por nossa conta. Minha mãe, antes de morrer, tinha o filho número15, e tivemos que deixar com gente do sertão, gente boa que nos dava comida.

Algumas vezes cantávamos com aquele violão que havíamos encontrado, mas não era tocando, era batendo, fazendo ritmo indígena. Vimos violonista tocar e passávamos o dia inteiro escutando. Chegava a hora de urinar, não sabíamos aonde mas agüentávamos escutando aqueles violonistas, que era uma coisa muito bonita.

Depois fomos caminhando pelo sertão e trocamos violão por quatro quilos de feijão. Fomos andando, passando Bahia e outras localidades até chegar ao Rio de Janeiro.

Quando chegamos ao Rio, no centro da cidade tinha lugar que se chamava Praça da Harmonia. Tinha lugar que se chamava Albergue da Boa Vontade. Lugar onde nós tomavamos banho, depois nos vestiam com saia branca e nos davam cama. Nós nunca havíamos dormido em cama, e tinha café de manhã e mate. Passamos uns quinze dias lá.


Ali conhecemos, do lado de fora, sujeito que trabalhava com bandeirola do trenzinho. E ele nos disse assim: porque não vão morar em Realengo, lugar muito bonito, tem casas boas(...) A casa não tinha telha, mas era uma casa. Ainda hoje nos pertence. Meu irmão mais velho é quem toma conta, fica na rua Tecoté 69. Moramos dois ou três anos. Dali fomos à Ilha do Governador, meu pai comprou uma terra.

Não aprendi a ler, mas aprendi a tocar melhor violão quando fizemos uns serviços no Ceará. A música nos entrou muito forte. A música popular naquela época era muito boa, (cantarola) " porque bebes tanto assim, rapaz? ...".

Quando chegamos no Rio, tocava muito pouquinho. Depois fiz Serviço Militar, passei três anos e aprendi a tocar melhor. E consegui violão de quatro cordas Del Vecchio, violão tenor, sim.
Aprendi a tocar bastante bem. E saí do Exército porque um sargento começou a implicar comigo, porque eu tocava nos aposentos que pertencem a cabos e sargentos. Eu era cozinheiro, porque eu gostava de comer e de café. O sargento começou a pedir alguma música que eu não entendia. "Se você não toca, pára com essa charanga", disse e veio para mim como se fosse bater. "Eu vou lhe enfiar a mão". Eu disse: se enfiar a mão na minha cara, eu vou enfiar também. Apartaram e fui preso por sete dias.

Então comecei a tocar um pouco pelas ruas. Tinha 16 anos, mas não tinha tamanho. Não tenho mais que 1,70. Era o mais alto da tribo. Aliás, o mais alto tinha dois metros, era o tio Ta. O nome era Ipeutá. Mas o resto era tudo baixinho.

No Rio, começamos a tocar na rua. E nos jogavam algum dinheiro e a gente ia vivendo bem, mas dava muita vergonha porque éramos grandes, já.
Então fomos dar uma prova numa estação de rádio. Fomos falar com diretor da Cruzeiro do Sul, o Paulo Roberto. Perguntou: vocês são de que tribo? Cantávamos de uma maneira estranha.

A gente não dizia que era índio, porque as pessoas tinham medo. Ele insistia: mas vocês têm cara de índio, a linguagem de vocês é muito estranha.
Resolveu dar um contrato por uma semana e um conto de réis, que era muito dinheiro para nós. Na rua, ganhávamos dois mil réis no máximo . Aï contamos que nós éramos Tabajara. Aí disse que ia anunciar a gente como Índios Tabajaras. E o povo gostou.
Ficamos outra semana. Dali fomos trabalhar na Casa do Caboclo, que tinha shows, tinha o Apolo Correia, ator. Nosso trabalho era entrar na cena com violão, cantar coisa indígena, a gente saía e entrava de novo, o povo ria muito.


Estreamos no Cassino, mas tocamos muito bem, cantamos bem. Nenhum dos outros nossos irmãos gostou de música, porque demanda inteligência, determinação, insistir, insistir, repetindo, repetindo.

Aparecemos em revista. Mas o dinheiro que cobrava era muito pouco. Chegamos a ir a São Paulo e Buenos Aires, com um espanhol que se chamava José Montoja, que falou com um dos diretores da rádio El Mundo: "Jo tengo aqui dois artistas índios que são um sucesso estrondoso". Diretor de rádio gosta dessa história de sucesso estrondoso.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

o raspar da colagem

Por Ugo Borba, durante reportagem no Congo



"___________________________ o irritante traço contínuo.

É apenas uma dobra e um baraço. O texto dobra, efeito de colagem. O texto suspende o sentido, à espera de dizer exacto. Há frases que só completei anos depois; há frases que, no limiar dos mundos, não devem ser escritas por inteiro; há frases cujo referente de sentido será sempre obscuro. Se eu pretendesse escrever um texto sempre limpo - tiraria o traço. Onde não soubesse, nada escreveria. Mas como iria saber que ali não soube, ou nem sequer me pertencia saber? O texto é limpo, e por passajar. Onde o traço é apagado, vê-se claramente o raspar da borracha. Deixar o traçado."


Llansol, Inquérito às Quatro Confidências, p. 75, citado por IMF em http://mendesferreira.blogspot.com/

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

40. RARAS ANDORINHAS


Há tempos penso em escrever sobre Shakespeare neste espaço; da mesma forma que fiz com Camus, Bukowski e Machado, pensei em Hamlet, Lear, Otelo e um dos objetivos com a homenagem foi tentar destrinchar o primeiro homem, o homem inalcançável: quem será este que vive além dos limites humanos e surpreende ao abrir espaços e portas a outros que jamais irão alcançá-las, e a quem só cabe admirá-las?

Na verdade, entrei por outro caminho, e meu tio NATO LIMA virou foco de atenção e Shakespeare ficou para outra época; a bem da verdade, não seria louco de me ater a comparações, ainda que Nato Lima faça parte de qualquer lista brasileira dos melhores violonistas em todos os tempos - já reservo logo o meu receio à expressão "entre os melhores", já que estar entre os melhores pode significar ser o melhor do mundo ou pertencer aos 100 primeiros de um grupo qualquer.

A verdade é que aqui venho, após uma semana de luto, a mostrar um misto de tristeza, resignação e esperança com a morte de tio Nato, no último domingo, em decorrência de um câncer.

Meu último encontro com tio Nato foi no mês de abril, e a surpresa com ele sempre se deu pela alegria, simplicidade e pouco valor a sua hitória como músico. O DESAPEGO À FAMA e aos limites impostos pelo mercado - inclusive pela ojeriza aos registros fotográficos, o que me impediu de marcar ad eternum esse ilustre encontro - fizeram dele um sujeito único, não apenas pela árdua e consagrada caminhada, mas também pela proposta de superação. Um grande amigo, o cineasta Bernardo Antunes, enxergou que "é facil ser músico erudito quando se nasce na Europa e desde cedo se estuda em escolas gabaritadas, com grandes professores; outro lance é sair de uma tribo de índios, sem escola, sem pais ou qualquer outra orientação e aprender a tocar violão como poucos no mundo".

Muito de minha tristeza ao olhar para o que o meu tio deixou hoje se dá pelos anos de desvalorização do seu trabalho vindo da própria família. O desapego à qualidade musical, à qualidade do trio composto pelos irmãos - Nato, Assis (meu avô)e Antenor - só adquiriu valor por poucos, cujo "ouvido clínico" tiveram o dom de apreciar.

Mas a alegria vem pelo orgulho, por ter feito parte desse caminho, ainda que distante, dadas as diferença de idade e os descaminhos criados pelas divergências familiares. Lugar comum, mais um brazuca que se vai e deixa a poucos a sua importância.

Agora, em meu colo, a incumbência de organizar a "fundação Nato Lima", cujo propósito é angariar fundos para a sua vuíva, a também violonista Michiko, e OUTRAS propostas ainda sendo analisadas.

Já que o post e a minha tristeza diante da situação pede que os melhores estejam presentes, deixo a melhor interpretação de Nato e seu irmão Antenor, "Valsa - Opus 64", de Chopin, brilhante e sublime registro à década de 60; vale a informação de que Nato fora o primeiro a transcrever a peça para o violão, antes executada apenas ao piano.

"Deu um trabalho fazer isso no violão! Muito luthier recusou essa parada", confessou Nato em uma de suas agradáveis conversas, deixando claro que um violão comum não seria capaz de entrar nessa seara, e um luthier que se dispusesse a criar um violão com três trastes a mais seria lembrado por ele até os últimos dias.

Força, tio NATO, e obrigado pelo legado deixado por você mesmo louvado - diferentemente de Machado, cuja visão limitou-se a "NÃO TRANSMITIR A NENHUM SER O LEGADO DE SUA MISÉRIA" - miséria esta transformada por Nato, ao sair de uma tribo no interior do Ceará, em riqueza das mais divinas. Andorinha nada cega e de voos rasantes e altíssimos à mesma maneira.



domingo, 15 de novembro de 2009

esperança equilibrista




Clube de Regatas do Flamengo, fundado em 15 de novembro de 1895.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

no princípio era o TEXTO 16 - sangue e areia


OLHA que coisa mais linda: as garotas de IPANEMA - 1961 tomavam cuba-libre, dirigiam Kharmann Ghias e voavam pela Panair. Usavam frasqueira, vestido-tubinho, cílio-postiço, peruca e laquê. Diziam-se existencialistas, adoravam arte abstrata e não perdiam um filme da Nouvelle Vague. Seus points eram o Beco das Garrafas, a Cinemateca, o Arpoador. Iam à praia com a camisa social do irmão e, sob esta, um biquíni que, de tão insolente, fazia o sangue dos rapazes ferver da maneira mais inconveniente.
Mas a querida PanAir nunca mais voou, a Nouvelle Vague é um filme em preto e branco e ninguém mais toma cuba-libre- quem pensaria hoje em misturar rum com Coca-Cola ? Quanto àquele biquíni, era mesmo insolente, embora, por padrões subseqüentes, sua calcinha contivesse pano para fabricar dois ou três pára-quedas. Dito assim, é como se, em 61, o céu do Brasil ainda fosse povoado por pterodáctilos.
Mas HÁ UMA EXCEÇÃO. A música que aquelas garotas escutavam na época continuam a ser ouvida - um milênio depois - como se brotasse das esferas: A Bossa Nova.
Primeiro parágrafo de "A Onda Que Se Ergueu no Mar", Ruy Castro, 2001.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

BELAS E FERAS






Pouco
podemos fazer quando os argumentos reúnem forma e conteúdo à mesma proporção:
quem poderia opor-se a simultânea beleza e qualidade quando o assunto são as aventuranças de Serena Williams nas quadras de tênis?
O fato é que essa deusa de ébano vem arrebetando nos torneios mundo afora e acabou de abocanhar a Copa do Mundo, competição que reuniu as oito melhores do ano em Doha, sem precisar fazer muito esforço para superar as adversárias.
Além de beleza e categoria, FORÇA! A "SHE-RA" negra vem dando o ar de sua graciosidade e já ocupa lugar no meu top 6 - e no meu coração de apaixonado também - entre as melhores em todos as eras.


domingo, 8 de novembro de 2009

FELLINI, IL MAESTRO





Tem gente que emprega toda a sua energia (e seus euros) nas Galleries Lafayettes, nos perfumes e produtos de beleza grifados. Ou fica feliz só de beber um vinho Bordeaux ali pertinho da Torre Eiffel iluminada. Paris tem desses apelos, difíceis de resistir até mesmo para uma estudante latino-americana quase sem dinheiro no banco.

Fato é que, em meio a tantos desejos e tentações parisienses, irresistível mesmo para mim é a vida cultural desta cidade. Além da oferta generosa de museus, com seus acervos permanentes, vira e mexe somos brindados com exposições, mostras e retrospectivas sobre os mais variados campos das artes, como a que acontece agora sobre Federico Fellini (1920-1993). Os 50 anos de La dolce vita (1960) são apenas um pretexto para homenagear Il Maestro com a exposição Fellini, la Grande Parade (Fellini, o grande desfile) até 17 de janeiro no museu Jeu de Paume (http://www.jeudepaume.org/), com fotografias, cartazes, trechos de filmes, desenhos, revistas e entrevistas, muitas delas apresentadas pela primeira vez ao público.

E, no embalo da exposição, a Cinémathèque Française (http://www.cinematheque.fr/) exibe até 20 de dezembro a mostra Tutto Fellini!, simplesmente uma restrospectiva integral da obra do cineasta. Uma oportunidade rara de assistir clássicos como Otto e mezzo (1963), Giulietta degli spiriti (1965) e Amarcord (1973) em película e na tela grande de um bom cinema.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

estruturalistas, ADEUS



Claude Levi-Strauss(1908-2009)


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CLIMATE CHANGE 2009

Marco Valentini, Italy


Pamela Campagna & Thomas Scheiderbauer, Spain



Scott Laserow, USA

Cai Shi Wei, China



Joe Scorsone & Alice Drueding, USA



Ju-hwan Lee & Seung-hoon Nam, South Korea



Mittelsdorf Jens, Germany


Ricardo Perello, Italy