quinta-feira, 22 de julho de 2010

afogado no QUASE mesmo





"O bomba membói, espetáculo extraordinário. É uma espécie de balé grotesco, dançado pro máscaras e figuras totêmicas, sobre o tema que é sempre o mesmo: a matança de um boi.
Sobre esse tema, os personagem improvisam em parte; por outro lado recitam um texto em verso, sem parar de dançar. As márcaras são extraordinárias:dois palhaços vermelhos, um cavalo-marinho no interior de um cavalo de mentira, uma cegonha, um fanfarrão vestido de gaucho.Dois índios e, naturalmente, o boi, o “morto carregando o vivo”, espécie de manequim com dois corpos, o filho do vcavalo, o potro saltador, um homem de pernas de pau, o crocodilo e, dominando o conjunto, uma morte de pelo menos três metros de altura, que contempla o espetáculo com a cabeça lá no alto, no céu da noite.
(...) A origem religiosa é evidente, mas tudo isso afoga-se numa dança endiabrada, mil invenções graciosas, finalizando com a morte do boi, que renasce logo depois,e foge levando uma menina entre os chifres.
A conclusão num grande grito:
“Viva o senhor Camus e os cem reis do Oriente”.
Volto para o hotel, entorpecido pela gripe.


por Albert Camus, Recife, 22 de julho de 1949.

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