segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

LENTO ESBOROAR







dentro da caixa escura, nenhuma lua
mas a voz que chispas, acentua
no ar, a espessura quase feltro
no ar, que antes dela era neutro
como o sono sem sonhos,
ou preso no casulo de um pesadelo
(ao encontro dos dedos se rompe
sobre o nada, que a luz interrompe)


chega a voz, e recolhe e espalha
cada fragmento, "migalha de luz"
lento esboroar, de quem já fui, na tarde


a voz vara persianas,
cobre as dálias,
vai de encontro à lixa das cigarras."

"Voz", Cláudia Roquette-Pinto.


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