sexta-feira, 28 de março de 2008

MELODIA DE ACORDEÃO

"Há dias eu não pronunciara uma única palavra, e meu coração explodia de gritos e revoltas contidas. Eu teria chorado como uma criança se alguém abrisse os braços para mim. Lá pelo fim da tarde, abatido pelo cansaço, olhava perdidamente para o trinco da minha porta, com a cabeça oca, repetindo uma melodia popular de acordeão. Naquele momento, eu não conseguia ir mais adiante. Sem país, sem cidade, sem quarto e sem nome, loucura ou conquista, humilhação ou inspiração, eu iria saber ou me consumir? Bateram à porta e meus amigos entraram. Estava salvo mesmo que frustrado. Acho que disse: 'Fico contente em revê-los'. Mas estou certo de que aí pararam minhas confissões, e de que, a seus olhos, fiquei sendo o homem que eles haviam deixado."

O Avesso e o Direito(1935), Albert Camus

Nenhum comentário: