sábado, 23 de maio de 2009

aforismos SECOS - by Mr. TYNAN


Yellow-Red-Blue, WASSILY KANDINSKY.






21 março 1972: Tenho perfeita consciência de que a função do jornalista é atrair a atenção dos leitores para os ANÚNCIOS, e que quando escrevo para a New Yorker, o meu dever fundamental é vender VODKA.


12 DE ABRIL 72: Meados dos anos 50: um jantar, e o dono da casa pediu exasperadamente que indicassem as três coisas de que mais gostavam no mundo. As respostas variaram entre o sério, o previsível (os quartetos de Schubert), até KITTY FREUD sacudir os cabelos escuros e declarar: "VIAJAR, boa comida e ser surrada no traseiro com UMA ESCOVA DE CABELO."




22 março 1971. Definição de quem se impõe: a pessoa diante da qual todos se preocupam em saber se o seu comentário à nossa próxima frase será um sorriso ou um rosnado. Com as pessoas que se impõem, sempre corremos perigo, mesmo que não trabalhemos para elas (Hemingway, por exemplo)."




3 DE MAIO 72: Depois do último número, um sujeito baixinho surgiu no meio da fumaça do Biltmore Ballroom. Trazia uma caixa surrada e dentro dela um trumpete surrado. Pergunto ua Doe se podia sentar conosco e tocar junto; era assim naqueles lugares, nesses tempos acelerados de jaz cru e animado. O sujeito pegou o trompete e, por duas horas, tocou LABIRINTOS MILAGROSOS de harmonia. Depois guardou o instrumento e partiu no amanhecer AZULADO de Chicago. O nome dele era Bertolt BRECHT.


13 de março 71: Virtualmente sem amigos, aos 43 anos. Afastei os amigos tradicionalistas com as minhas posições políticas de esquerda e os amigos de esquerda com o meu AMOR ao PRAZER.


10 DE AGOSTO 71: Venho desenvolvendo aos POUCOS O HÁBITO da INDIFERENÇA. Estou aprendendo a não ter sentimentos muito exacerbados em relação a nada. A esse recuo emocional corresponde uma queda na energia: só as necessidades básicas – COMIDA E SEXO – conseguem AGORA me tirar do torpor. Hei de morrer me debatendo em APATIA.

31 DE JUNHO 72: O crítico de arte é alguém que conhece o caminho mas não sabe guiar o veículo.
















Por Kenneth Tynan (foto), jornalista, dramaturgo e crítico inglês, em ensaios para a New Yorker, escritos na década de 1970. Trad.

7 comentários:

Paloma Flores disse...

Adorei a última frase! Acho que todos os críticos, em geral, são assim. Ótimos (ou não) guias. Mas péssimos condutores. Aí gastam a vida sentados no banco do passageiro dando palpites (inúteis) sobre onde você está ou não indo.
Acho que sou uma pessoa que se impõe.

Valéria Martins disse...

Que legal, eu não conhecia esse sujeito!

Curtiu o Odisséia ontem? O Democráticos estava ótimo como sempre.

Beijos

Pablo Lima disse...

isso, paloma! vc. é quem melhor define a questão "tyniana" sobre o assunto; uma construção de sua autoria seria: "críticos são ótimos guias mas péssimos condutores".

já penso que a próxima listinha de aforismos publicada por aqui poderia ser by "Mrs. Flores"...

Pablo Lima disse...

tem mais do tynan, cara val, aguarde!

como sempre excelente o odisséia!
vc precisa ouvir uma cantora chamada roberta espinosa.

Agnes R. disse...

Agora eu pergunto: o que o Tynan diria a respeito de Oscar Wilde, Manuel Bandeira e Glauber Rocha, apenas para citar alguns dos (não raros) maravilhosos artistas que também exerceram - e muito bem - a crítica?

Pablo Lima disse...

agnes, ENTendi COMO uma autocrítica os comentários do tynan.
sobre o wilde, fique de olho no proximo post sobre os causos do kenneth.
bjocas!

Agnes R. disse...

Sim, autocrítica, até mesmo porque ele era jornalista, né?
Desculpe, Pablito, mas sou apaixonada por crítica literária e não foi à toa que larguei a profissão de jornalista para seguir este caminho. O que acontece é que a crítica exercida pelos jornalistas é muito diferente daquela feita por filósofos, cineastas, escritores, artistas e pensadores de um modo geral, que buscam a via do ensaio para falar de outra obra. É muito diferente do jornalista, que tem como premissa o "julgamento" de determinada obra e acredita que detém o poder de afirmar se ela é boa ou não, se serve ou não, se deve ou não ser c-o-n-s-u-m-i-d-a pelos leitores. Há uma lógica de mercado por trás. Tudo através de uma ótica meramente impressionista (e rasa). A verdadeira crítica deve ser isenta de questões mercadológicas e dialogar com o objeto, acrescentando, muitas vezes, elementos que nem o próprio autor da obra havia imaginado. E, nesse sentido, ela também é criação, daí o seu valor. Mas isso é uma discussão loooooonga... Tão longa que eu cheguei a escrever uma monografia sobre o assunto, comparando a crítica jornalística à crítica ensaística. Deu pano pra manga!
Beijos