domingo, 24 de junho de 2007

VOZES DO CÁRCERE

(...) para minha surpresa, os guardas saíram chutando minha roupa e, quando me dei conta do que acontecia, a porta de aço foi violentamente fechada na minha cara. Entrei em pânico, a cela estava nua como eu. As paredes eram úmidas, esverdeadas, havia um humus decorando-as, quais veias. O chão era de caquinho de cerâmica, bloqueada por uma grossa chapa de aço, com furos milimétricos para entrar o ar gelado. No teto, em dois cantos, teias enormes de aranhas, minhas amigas...

Memórias de Um Sobrevivente, Luiz Alberto Mendes Jr.





Naquela noite ao meditar sobre tudo isto, sem sono, procurei não incomodar meu companheiro de cela, que dormia profundamente, me aproximei da janela e sem que pudesse esperar, senti algo invadir meu peito e minha alma.De súbito, fiquei estático com tão bela imagem que surgiu diante dos meus olhos.Olhando ao alto, bem acima das muralhas, no céu estrelado, Ela, "a Lua", emitia luminosidade a qual jamais havia visto.(...)Respondi à Lua que a razão maior de todo meu desanimo pela vida estava no fato de me sentir tão solitário e sem perspectiva.Qual não foi minha surpresa quando Ela me disse também ter vivido o mesmo drama.

Diário de um detento, Jocenir


(...) trancavam a porta e deixavam os cachorros avançar na gente.Você imagina os cachorros naquela situação, sangue pra todo lado, barulho de tiro, grito, paulada nas grades, eles ficaram loucos(...) a cena era horrorizante. Começamos a lavar o pavilhão, puxando com rodo aquele monte de sangue. Pedaço de carne, pedaço de companheiro meu, pedaço de ser humano no meio da água misturada com sangue, sangue de vários homens"

Sobrevivente, André du Rap

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