Alegoria da Vaidade do Mundo (1637); óleo de Antonio de Pereda (1608-1678).
"Quando, portanto, a vaidade de Shakespeare deu lugar ao orgulho, ou melhor, quando a mistura de muita vaidade e de algum orgulho, inicial nele, de lugar a uma mistura de pouca vaidade e algum orgulho, ficou ele automaticamente entorpecido para a ação, e o elemento neurastênico de seu caráter espalhou-se como lenta maré sobre a superfície de sua histeria(...)
Isto foi declinando para o fim de sua obra escrita. O humor suplantou a espirituosidade. Nasce da antinomia tanto da vaidade como do orgulho, isto é, da humildade, da percepção, racional ou instintiva, de que no fundo não somos mais do que os outros homens. O efeito do orgulho que Shakespeare sentia em dominar sua vaidade, as outras restrições a essa vaidade resultantes do desapreço e insucesso em coisas superiores, deram liberdade mais e mais ao humor de Shakespeare.
Alguma prosa, Fernando Pessoa
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