domingo, 23 de novembro de 2008

150 anos de descompromisso poético


"Teremos camas com os mais leves cheiros

E profundos divãs, quais mausoléus,

Além de estranhas flores nas prateleiras,

Pra nós abertas em mais belos céus.

A porfia gastando os ardores últimos,

Os nossos corações, quais labaredas,
Refletirão as suas chamas duplas

Nas nossas almas, dois espelhos gêmeos.

Numa noite de rosa e de azul místico

Um só relâmpago iremos tocar,

Como o soluço de um adeus sem fim;

E um Anjo, mais tarde, abrindo as portas,

Alegre e fiel, virá reanimar

Os baços espelhos e as chamas mortas."


Excerto de "A morte dos amantes", in As flores do mal, de Charles Baudelaire , obra que completa 150 anos em 2008.


2 comentários:

Anônimo disse...

"Como o soluço de um adeus sem fim.."

Muito bom hein?! Tratando-se de amantes apaixonados..

Carolina disse...

Olha essa pérola do francês: "A gramática, a mesma árida gramática, transforma-se em algo parecido a uma feitiçaria evocatória; as palavras ressuscitam revestidas de carne e osso, o substantivo, em sua majestade substancial, o adjectivo, roupa transparente que o veste e dá cor como um verniz, e o verbo, anjo do movimento que dá impulso á frase."
Muito boa, né?
bjos