sexta-feira, 7 de agosto de 2009

homem comum, ENFIM



As palavras parecem dizer muita coisa relevante quando a gente a canta. Quando a gente pensa um pouco, nada é mesmo relevante. Depois a gente pensa mais e volta a desconfiar de que talvez tudo seja relevante. Nesse sentido ela não é uma canção sobre os livros, mas uma canção sobre as canções.

Por Caetano Emanuel Telles Veloso, nascido em 07 de agosto de 1942, sobre a sua canção"Livros".

Livros
Tropeçavas nos astros desastrada/
Quase não tínhamos livros em casa/ E a cidade não tinha livraria/
Mas os livros que em nossa vida entraram/São como a radiação de um corpo negro/Apontando pra a expansão do Universo/ Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso/(E, sem dúvida, sobretudo o verso)/ É o que pode lançar mundos no mundo.
Tropeçavas nos astros desastrada/ Sem saber que a ventura e a desventura/ Dessa estrada que vai do nada ao nada/São livros e o luar contra a cultura.
Os livros são objetos transcendentes/ Mas podemos amá-los do amor táctil/ Que votamos aos maços de cigarro/ Domá-los, cultivá-los em aquários,/ Em estantes, gaiolas, em fogueiras/ Ou lançá-los pra fora das janelas (Talvez isso nos livre de lançarmo-nos) /Ou ­ o que é muito pior ­ por odiarmo-los/ Podemos simplesmente escrever um:
Encher de vãs palavras muitas páginas /E de mais confusão as prateleiras/ Tropeçavas nos astros desastrada/Mas pra mim foste a estrela entre as estrelas.


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