sexta-feira, 26 de junho de 2009

1.AMORES BRUTOS (planos divinos, dá no mesmo)



Alexandro Gonzalez Iñarritú, México, 2000

Tomado pela reflexão, vi-me diante do dilema de confrontar a existência de homens e cães à mesma medida. A olhos vistos, após "Amores Brutos" não hesitei em ter dúvidas(ops, construção de gosto duvidoso) eternas acerca de tal comparação, e a equilibrar-me no trapézio das escolhas, opto algumas vezes pelos humanos e em outras os desprezo em detrimento à espécie denominada como o melhor amigo do homem.


Primeiro trabalho no cinema do mexicano Iñarritu, "Amores Brutos" (Amores Perros no original, Amores Caninos na tradução ao pé da letra) dá conta de uma obra eterna, original, e ainda me é eleita como a MAIOR obra cinematográfica do século XXI, cuja trama se desenvolve a partir de um acidente de trânsito que acaba por envolver os destinos de três personagens: Octavio, - a primeira aparição de Gael Garcia Bernal no cinemão - um pós- adolescente que usa o seu "perro" em rinhas de cães para levantar alguma grana; Valeria, uma manequim no auge da carreira; e Chivo, -responsável pela melhor atuação do filme- ex-guerrilheiro e ex-presidiário, que sobrevive numa Cidade do México sombria como mendigo e matador de aluguel. E diante deste cenário, homens e cães trocam de posição e assumem significados diferentes à vista do espectador: cães matam outros cães e não matam homens? Humanos que assassinam e seqüestram por dinheiro são incapazes de tirar a vida de um reles cão? Cães são capazes de matar por qualquer preço? Há quão longe vai o prazer do homem ao vislumbrar cães se matando? Amar é atributo do cão, do homem ou de ambos?


Entendo pouco sobre os cães, e muito menos sobre os homens, e diante dessa pletora de questões, surge uma sombria, tosca, opaca, feroz, e por que não, canina Cidade do México, como em muitas das principais capitais dos países subdesenvolvidos. O acidente e a trama serve como pano de fundo pra mostrar uma sociedade com feridas abertas, suas necessidades básicas de relacionamento corrompidas e indivíduos que não vêem perspectiva para os seus sonhos mais simples. Um mundo onde impera a intolerância, - alguém lembra o que o misto de policial-bandido-terrorista fez com o celular do empresário ?- o eterno simulacro, com casamentos arranjados, policiais envolvidos em todos os esquemas ilegais possíveis e jogos de azar envolvendo animais; sociedade esta que não poderia fazer melhor ao lançar mão de cães violentos e ao mesmo tempo amáveis para manter as coisas em ordem.

3 comentários:

Anônimo disse...

Boa escolha. A 3ª história é a melhor. O amor pelos cães, ajuda o matador a recuperar o amor humano. Homens e cães se tornam parecidos pela proximidade.

Pablo Lima disse...

muito bom, rose! a multiplicidade de leituras q o filme propõe tmb é o ponto-chave. e chivo é mesmo o personagem central, está com ele a capacidade de tomar as decisões mais difíceis, entre elas a de deixar os "amigos" empresários resolverem seus próprios destinos.

o outro ponto importante, q serve de elo entre as histórias, é a perda das utopias; na primeira história,por exemplo, o sonho de Octavio cai por terra ao desejar possuir a mulher do irmão...

Denise Egito disse...

Pablo, difícil esse desafio, mas, certamente, os cinco filmes que você escolheu são obras-primas.PARABÉNS!