terça-feira, 7 de abril de 2009

V. A VIDA BREVE

Juan Carlos Onetti, 2004

"Um sorriso torcido, e descobrimos que a vida está cheia, e não é de hoje, de mal-entendidos. Gertrudis, meu trabalho, minha amizade com Stein, a sensação que tenho de mim mesmo, de mal-entendidos. De vez em quando algumas oportunidades de esquecimento, alguns prazeres que chegam e passam envenenados. Talvez todo tipo de existência que eu possa imaginar deva tranformar-se em nm mal-entendido. Talvez, pouco importa(...) A convicção de que todo mal-entendido é superável até a morte, menos o que venhamos a descobrir fora de nossas circunstâncias pessoais, fora das responsabilidades que podemos rejeitar, retribuir, derivar."




Publicado em 1950 no Uruguai e só editado e traduzido por aqui há 3 anos,- os brasileiros fazemos questão de ver o mundo com "atraso"- "A vida breve" é um inventário de situações multifacetadas, que ganham dimensões excepcionais sob os cuidados de Onetti. A personagem Juan Maria Brausen, um publicitário que sonha em fugir da vida banal que lhe consome, imagina um mundo em que fato e fantasia se entrelaçam. Brausen adota três personalidades diferentes em uma cidade denominada Santa María, também fictícia. No decorrer dessas múltiplas e diversas situações, o autor passeia progressivamente rumo à violência e à sordidez humana. Como bem observou o crítico Walter Carlos Costa, "os personagens são inesquecíveis e a linguagem é sempre elusiva e elegante. "

Onetti é considerado o maior escritor uruguaio por discípulos como Cortázar, Carlos Fuentes e Mario Vargas Lllosa, e "A vida breve" chegou a ser comparada a "Madame Bovary", de Flaubert. Como observação, é de Onetti a famosa frase: "E como nos falta a grandeza necessária para pôr outro objetivo no lugar da felicidade."

6 comentários:

Anônimo disse...

Aí não vale... o livro é de 1950, poxa!!!

Pablo Lima disse...

HAHAHA! é válido o protesto, caríssima! prometo não fazer mais isto! (:


será algo do mundo dos saudosistas achar q a literatura do século XIX dilaceraria de vez com a do século atual?

Anônimo disse...

Xiii, isso é uma questão polêmica. A gente sempre tende a achar que o melhor está no passado, que o que é feito hoje não é tão bom porque, aparentemente, tudo já foi tentado.

Mas não é bem assim. Na verdade, ainda não temos o distanciamento histórico necessário para enxergar tão claramente a produção artística atual. E, se você prestar atenção, vai reparar que as melhores obras são aquelas que ganham novas interpretações e significados com o tempo, a cada releitura...

Então é isso: valorizar o passado é maravilhoso. Mas a História está aí mesmo para ser reinventada, para ser sempre reescrita e acho que é por esse motivo que um artista ainda consegue ter a audácia e a coragem de criar alguma coisa nesse mundo, não acha?

Beijos

Pablo Lima disse...

caríssima, ponha polêmica nisso! e das boas!
mas o interessante é perceber que o papo entrou em um nível espetacular, que é o de examinar as características próprias de cada romance listado; digo isto porque o próximo a ser citado também possui características atípicas para integrar tal lista.

Com o Onetti aconteceu de o romance só ser traduzido e editado por aqui com 54 anos de atraso, o que restringe o seu acesso a alguns - neste caso, à maioria.

Já com o próximo da lista aconteceu algo ainda mais atípico: o autor deste morreu em 1960 e só em 2006 os esboços do que viria a ser a sua última obra acabou sendo publicado, encontrado em uma maleta junto ao seu corpo sem vida !
Diante deste cenário, surgem as questões: esta seria avaliada como uma obra recente ou antiga? valeria a data em que os escritos foram lançados à sorte ou a data da publicação?
porque assim ficaremos ou com o contexto dos fatos/acontecimentos existentes à época em que a obra foi escrita, já que o romance fora elaborado à luz dos anos 1960, (e coloquemos mais polêmica em jogo por não se tratar de uma obra completa, definida pelo autor como tal)ou adotaríamos a data de publicação da "obra", há apenas 1 ano, já que esta não se relacionou com o mundo nas últimas quarenta décadas?

E não aconteceria o mesmo com o Onetti? O fato de o seu livro ficar “proibido” a um idioma por 54 anos não mudaria a sua maneira de ser interpretado? Privaram o Onetti de ser agraciado com novas interpretações e significados com o tempo,com as possíveis releituras de sua obra em português ao longo do tempo.

Interessantíssimo o nosso cenário, não? (:

Sobre você ter afirmado que os artistas ainda conseguem ter a audácia e a coragem ao continuarem criando suas obras,prefiro sair do século XXI e citar o velho Nietzsche: “temos a arte para que a verdade não nos destrua”.

Bjão!

Anônimo disse...

Como assim os originais foram encontrados em uma maleta ao lado do escritor morto??? Isso parece roteiro de filme noir ou de Rubem Fonseca, hehehe... Bem, mesmo tendo sido lançado em 2006, eu consideraria a obra como sendo dos anos 60, já que a "atmosfera" em que foi criada é decisiva para o resultado final.

Por outro lado, toda grande obra de arte, como eu disse, é atemporal, na medida em que só engrandece com as releituras possíveis.

Mas se você levar isso em conta, então a sua "lista dos 6 mais do século XXI" perderá toda a sua razão de ser, pois qualquer grande obra poderá ser eleita!

Pablo Lima disse...

Filmes noir à parte, a proposta foi inversa, já que a vida do autor imitou a arte; na verdade, eu procurei o caminho inverso à idéia proposta no seu último parágrafo: em alguns casos, não acredito nesta visão que defende a atemporalidade das obras, porque as datações de algumas obras são demasiadamente importantes. Ou seja, não dá pra olhar para uma obra escrita em 1960 sem observarmos que a mesma só foi publicada em 2006! Apesar da atmosfera descrita nas páginas do livro ser a de quatro décadas atrás, como conviver com esta distância se a obra não sofreu as devidas releituras ao longo de todo este tempo?? Não seria outra a tal atmosfera caso a releituras corrompessem as páginas ao longo dos anos??
Bjão.