domingo, 19 de abril de 2009

no princípio era o texto 8 - SARAMAGO & FONSECA




81. Memorial do Convento, José Saramago:
D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda nao emprenhou.

82. Gazela, Rubem Fonseca:
O senhor talvez pense que estou bêbado, mas não estou bêbado porra nenhuma! É esta história que me deixa tonto, nunca contei nada para ninguém, na verdade, quem me parece bêbado é o senhor.
83. A Grande Arte, Rubem Fonseca:
NÃO ERA uma ferramenta como as outras. Era feita de material de qualidade superior e o aprendizado do seu ofício muito mais longo e difícil. Pra não falar no uso que dela fazia o seu portador. Ele conhecia todas as técnicas do utensílio, era capaz de executar as manobras mais difíceis com inigualável habilidade, mas usava-o para escrever a letra P, apenas isso, escrever A LETRA P NO ROSTO DE ALGUMAS MULHERES.

84. Todos os Nomes, José Saramago:
Por cima da moldura da porta há uma chapa metálica comprida e estreita, revestida de esmalte. Sobre um fundo branco, as letras negras dizem CONSERVATÓRIA GERAL DO REGISTRO CIVIL. O esmalte está rachado e esboicelado emalguns pontos. A porta é antiga, a última camada está a descascar-se, os veios da madeira, à vista, lembram uma pele estriada.

85. Beijinhos no Rosto, Rubem Fonseca:
"A sua bexiga terá que ser removida inteiramente", disse Roberto. E nesses casos prepara-se um lugar para a urina ser armazenada, antes de ser excretada. Uma parte do seu intestino será convertida num pequeno saco, ligado aos ureteres. A urina desse receptáculo será direcionada para uma bolsa colocada em uma abertura na sua parede abdominal. Estou descrevendo esse procedimento em linguagem leiga para que você possa entender. Essa bolsa será oculta pelas suas roupas e terá que ser esvaziada periodicamente. Fui claro?
86. As Intermitências da Morte, José Saramago:
NO DIA SEGUINTE NINGUÉM MORREU. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenômeno semelhante.


87. O Cobrador, Rubem Fonseca:
EXISTEM pessoas que não se entregam à paixão, sua apatia as leva a escolher uma vida de rotina, onde vegetam como "abacaxis numa estufa de ananases", como dizia meu pai.


88. História do Cerco de Lisboa, José Saramago:
Disse o revisor, Sim, o nome deste sinal é deleatur, usamo-lo quando precisamos suprimir e apagar, a própria palavra o está a dizer, e tanto vale para letras soltas como para palavras completas,



89. Vastas Impressões e Pensamentos Imperfeitos, Rubem Fonseca:
Acordei tentando me segurar desesperadamente, tudo girava em torno de mim enquanto eu caía sem controle num abismo sem fundo.

90. Ensaio Sobre a Cegueira, José Saramago:
O disco amarelo iluminou-se. Dois dos autmóveis da frente aceleraram antes que o sinal vermelho aparecesse. Na passadeira de peões surgiu o desenho do homem verde. A gente que esperava começou a atravessar a rua pisando as faixas brancas pintadas na capa negra do asfalto, não ha nada que menos se pareça com uma zebra, porém assim lhe chamam. Os autmobilistas, impacientes, com pé no pedal da embraiagem, mantinham em tensão os carros,avançando, recuando, como cavalos nervosos que sentissem vir no ar a chibata.

Nenhum comentário: