terça-feira, 17 de junho de 2008

FAMÍLIAS EM PEDAÇOS


Bem que o título deste post poderia ser "cabra marcado para morrer", mas lembrando-me do papo que tive com meu pai há cerca de cinco anos, o caráter conotativo da linguagem me obrigou a priorizar o lado familiar em detrimento do indivíduo fadado a ordens sócio-políticas.

"Pai, tem um novo filme nas telas que fala sobre as rixas das famílias nordestinas, deve valer a pena."

"Pablo, este tema não me apetece mais, nada disso me empolga. Acho que não funciona."

Foi diante desta resposta dada pelo meu pai que encarei o longa "Abril despedaçado" no cinema. E o que o motivou a pensar desta forma se deveu pela proximidade dele com esta realidade, conquistada pela sua origem, longe dos grandes centros e apegada a situações mais remotas, e também pela relação com os familiares e amigos que vivem tais tradições desde o início do século XX. A luta ancestral entre famílias pela posse de terra é pouco explorada pela ficção, e meu pai pensou que a crua realidade desta tradição pudesse solapar toda uma possível construção simbólica sobre isto através da sétima arte.


Possíveis enganos à parte, uma camisa manchada de sangue balança ao vento. Isto representa que uma vida ficará partida em duas: os 20 anos já vividos e o pouco tempo de vida que resta. Como dita o código da vingança da região, o assassino será perseguido e assassinado por um membro da família rival, e vice-versa, e assim sucessivamente, como prova a tradição ainda existente em lugures remotos do país e a obra na qual aqui estamos analisando.

O arado e a ordem patriarcal também se fazem presentes - o "também" é usado em homenagem a "Lavoura Arcaica", outra primadona do nosso cinema - mas aqui em outro sentido: mostra a vida dando voltas, uma ênfase às tradições imutáveis, que não mudam, não saem do lugar e a nada levam.

Diante deste cenário, surgem os conflitos; a angústia causada pela perspectiva da morte, o questionamento à lógica da violência e da tradição e a escolha da morte como "única opção" são os mais tocantes. E de notável temos também a genialidade de Walter Salles, já comprovada em outras obras (os viscerais "Terra Estrangeira" e "Central do Brasil", e a lucidez de Walter Carvalho, que baila no cenário natural e nos traz uma fotografia surpreendente e impressionante, de "boquiabrir" o sertanejo mais atento e sensível ao mesmo tempo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindíssimo esse filme. Mas devo acrescentar que o Rodrigo Santoro também está ótimo!
Bjs

Pablo Lima disse...

O José Dumont que nos diga...