sábado, 4 de outubro de 2008

dias de despedida

1 de novembro Este é o dia de todos os santos; amanhã é o de todos os mortos. A igreja andou bem marcando uma data para comemorar os que se foram. No tumulto da vida e suas seduções, fique um dia para eles... A reticência que aí deixo exprime o esforço que fiz para acabar esta página em melancolia; não posso, nunca pude. Tristezas não são comigo. Entretanto, em rapaz, - quando fiz versos, nunca os fiz senão tristíssimos. As lágrimas que verti então, - pretas, porque a tinta era preta, - podiam encher este mundo, vale delas.

13 de março
Não há como a paixão do amor para fazer original o que é comum, e novo o que morre de velho. (...) Aquele drama de amor, que parece haver nascido da perfídia da serpente e da desobediência do homem, ainda não deixou de dar enchentes a este mundo. Uma vez ou outra algum poeta empresta-lhe a sua língua, entre as lágrimas dos espectadores; só isso. O drama é de todos os dias e de todas as formas, e novo como o sol, que também é velho.
26 de março
Soubesse eu fazer versos e acabaria com um cântico ao deus do amor; não sabendo, vá mesmo em prosa: "Amor, partido grande entre os partidos, tu és o mais forte partido da terra..."


4 de abril tudo se deve escutar com interesse a um coração que ama.

8 de abril Quando eu era do corpo diplomático efetivo não acreditava em tanta coisa junta, era inquieto e desconfiado; mas, se me aposentei foi justamente para crer na sinceridade dos outros. Que os efetivos desconfiem!

30 de agosto Desembargador, se os mortos vão depressa, os velhos ainda vão mais depressa que os mortos... Viva a mocidade!(...) a mocidade tem o direito de viver e amar, e separar-se alegremente do extinto e do caduco.








Memorial de Aires, última obra escrita por Machado de Assis,em 1908.

2 comentários:

Carolina disse...

Muito bom este teu post, Pablo!!!
Adorei!
Bom te ver lá no blog. Vem quando quiser bater um papo entre um café e outro, tá?
bjos e bom findi!
Vou voltar mais vezes

Valéria Martins disse...

Que lindo, nunca li esse livro. Obrigada, Pablo.