quarta-feira, 23 de abril de 2008

TATUAGEM SEMI-OCULTA

O Invasor, Beto Brant, 2001


“Vamos falar de coisas mais agradáveis. Você quer que eu tire a roupa?"

E antes que eu dissesse qualquer coisa, Mirna repetiu os movimentos de quadris para livrar-se da calça apertada.

"Quero mostrar uma coisa pra você", ela disse, enquanto tirava a camiseta num movimento rápido. Quando Mirna despiu a calcinha, pude ver uma pequena tatuagem colorida, que se misturava aos pêlos aloirados de seu púbis, ficando semi-oculta. Um dragão.

Meu pai tinha um símbolo tatuado no ombro esquerdo, um círculo, no interior do qual havia uma serpente enrolada numa espécie de punhal. Uma coisa sinistra. Mas eu só descobri isso quando fui ajudar meu tio a banhá-lo, no dia em que ele se matou. Foi então que eu me toquei de que, até aquele dia, nunca tinha visto meu pai sem camisa. Mesmo quando viajávamos para a praia, nas férias, ele permanecia o tempo inteiro de camiseta, dizendo que não gostava de pegar sol. Semanas depois de sua morte, perguntei à minha mãe sobre aquela tatuagem. O assunto pareceu perturbá-la e ela desconversou, como se aquele símbolo estivesse ligado ao seu suicídio.

"E aí, não gostou do meu dragão? "

Mirna estava tão próxima que eu podia sentir o perfume discreto de seu corpo...

Trecho de "O Invasor", de Marçal Aquino.

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