segunda-feira, 28 de maio de 2007

URSOS AO SOL








Quando compus a letra da canção "Praça sem cantos", tive como idéia inicial destrinchar a largos passos o espírito infantil. Baseada num filme, a música tentou enxergar nas imagens do curta e nas referências impostas pela trilha sonora- da qual participei - uma criança com seus conflitos, alegrias, erros, dores e delícias. Falei de pião, de roda, de jardim, de neblina, de fumaça, mas também da idéia pião de como a vida pode dar voltas; o mesmo significado está para a roda, com a brincadeira de roda, ou a roda da bicicleta.


Relacionei um pouco disto ao binômio liberdade-solidão, destes paradoxais que as crianças sabem por quanto tempo querem ficar brincando sozinhas, mas não abrem mão da presença de um adulto quando a brincadeira acaba .Uma criança "livre" por muito tempo pode tornar-se solitária?

O misto de neblina e fumaça pode ser visto como as dúvidas que permeiam as mentes infantis, como as coisas não são claras, enuvecidas, turvas, diante de uma pletora de perguntas sem respostas.
Falo tambem de improviso, de brincadeiras que podem ser criadas ao léu, e também de um sol sorrindo, como naqueles desenhos feitos por crianças travessas, que põem uma boca côncava pra baixo na parte inferior do referido sol. Qual símbolo poderia ser mais definidor de uma criança do aquele solzão sorrindo largamente no canto esquerdo superior de uma página preenchida por rabiscos coloridos??

Resumindo: tentei dar voz à alma de uma criança libertando-as da interpretação de suas vidas do crivo dos adultos. E como relacionar isto tudo a uma única criança? lembrem de um nome:MACAIA !

Conheci esta criaturinha há uns meses e cada vez mais tenho certeza de que ela é a visão perfeita para o que eu quis representar na letra.Consegui encontrar a modelo ideal para a música anteriormente escrita, para as sensações previamente descritas.

Na primeira vez em que a vi foi pela janela entreaberta do carro, ao colo da tia, a uns dois palmos acima da minha vista: umbigo à mostra, cachos à altura da orelha, olhos grandes e castanhos me encarando com um ar de desconfiança e mistério; no segundo encontro foi pura desinibição: vestidinho verde, sorrisinho blasè, bem-acostumada ao ambiente e deixando transparecer que criava idéias de destruição e desordem num lugar pra lá de propício para tal, uma pizzaria!


A esta altura dos acontecimentos, ao experimentar o paradoxo de me deparar com a inspiração pós-produto ao ver a macaia, não sei mais o que a minha capacidade de observação ainda poderá enxergar ! que venham novos ursos, sóis, sorrisos e outros "espelhos infantis" para as futuras canções que eu possivelmente possa vir a criar.


Praça sem cantos
(Pablo Lima- Luiza Villela- Zé Patitucci)

Se ja passou, nao vai chegar
Se já choveu, não quer voltar
Pele de neblina
Voz de passarim
E eu fico assim, sem cantar
Brinco de prata
Sem hora exata
Manhã sem graça
O dia raiou
Brinco de prata
Sem hora exata
A praça calou


Moleque jogando bola
Pra que roubar neste jogo?
Liberdade, solidão, pião ,roda, a dor, adorar
Uma casa zen
O que fazer quando se tem
Algo a repensar
Pétalas no fundo do improviso
Cada qual no seu lugar
Sol sem sorriso
Tudo a se espalhar

Se já ouviu, não vai contar
Se já feriu, não quer sarar
Sombras na retina
Cores no jardim
Sendo o fim, como sonhar ?
Noite de graça
Sem serenata
Encontro sem data
Tudo mudou
Som de arruaça
Orvalho e fumaça
A praça cantou

3 comentários:

Bernardo Simbalista disse...

Fiquei curioso para ouvir a música. Não tem um link pra ela não? :)

Aline Said disse...

pow Pablito... quero ouvir a música tb!!!

Pablo Lima disse...

calma! já to resolvendo isso!
na pior das hipóteses, tenho o cd por aqui...